Paisagem com pastor e ovelhas, séc. XX (1ª metade)
“Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Efésios 4: 3)
A igreja de Cristo pode ser considerada de dois modos. No primeiro deles, é mística, orgânica e invisível. Dentro dessa perspectiva, o seu fundamento de unidade é Cristo. No segundo modo, a igreja é visível e organizada em uma cidade. Aqui, a unidade da igreja é garantida por sua unidade doutrinária, por sua adesão ao ensino dos apóstolos. Esses dois fundamentos da unidade da igreja se revelam no versículo abaixo:
“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina” (Efésios 2: 20)
Esses dois modos de considerar a igreja foram causa de controvérsias sobre a interpretação de Mateus 16: 18. Enquanto Santo Agostinho ensinava que Jesus era a Pedra fundamental de que falava o versículo, Cipriano falara anteriormente que era Pedro, mas não Pedro pessoalmente. Para Cipriano, uma pergunta fora feita a todos os apóstolos, mas foi Pedro quem a respondeu em nome de todos. Isso significa que o que Jesus falou a Pedro não falou a ele enquanto indivíduo, mas, sim, a todos os apóstolos que se representaram em sua fala. Desse modo, o colégio apostólico seria o fundamento da igreja.
De uma maneira pragmática, a igreja visível se une através de um Presbitério que supervisiona a obra em uma cidade. São os pastores que lançam o fundamento e edificam sobre ele (I Cor. 3: 10). Esse foi o ensino de Inácio de Antioquia no século II. Para ele, desobedecer aos bispos (=supervisores) era quebrar a unidade da igreja. É claro que Inácio estava falando de bispos fiéis à Palavra de Deus.
Assim como uma mulher deve pensar bem antes de casar, pois terá que se submeter ao marido quando ele deliberar, uma pessoa deve pensar bem antes de se unir a uma igreja, pois terá que se submeter ao seu Presbitério. A diferença é que, no caso do casamento, não há divórcio, mas, no caso de a pessoa discordar de uma igreja, pode ela ser dissociada ou dissociar-se. Para o que não se submete ao Presbitério, sair da igreja é o comportamento mais honesto. Um pastor sincero será duro com os obstinados, mas, ao que discordar com sinceridade, ele oferecerá o caminho que Abraão ofereceu a Ló (Gênesis 13: 7- 9) ou que Paulo e Barnabé se ofereceram (Atos 15: 36- 39), pois “como andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” (Amós 3: 3). O que importa é que a igreja se mantenha unida e no vínculo da paz.
A Bíblia responsabiliza os pastores pela doutrina (I Timóteo 4: 16) e pelo governo da igreja (I Timóteo 5: 17). São eles responsáveis pela disciplina. Paulo disse a Timóteo quais seriam as viúvas que deveriam ser aceitas para receber ajudar material e quais as viúvas que não deveriam receber ajuda (I Timóteo 5: 9-12, 16). Essa era uma questão de pastores (Paulo e Timóteo), embora com repercussões diaconais. Note que até a idade da viúva que deveria ser assistida pela igreja foi fixada pelos ministros. Um presbítero é que disciplina outro presbítero (I Timóteo 5: 19- 20). Eles controlam as ordenações (I Timóteo 5: 22). Eles se apartam e, obviamente, levam o povo a se apartar dos que discordam da doutrina (I Timóteo 6: 3 – 5).
Ninguém deve estar em uma igreja cujo Presbitério não seja objeto de sua confiança, mas cada um deve escolher uma igreja na qual a sã doutrina seja ensinada e na qual se confie que os pastores têm sábia direção. Se alguém errar nessa escolha, Deus o julgará.
Oliver Cromwell disse aos pastores presbiterianos da Escócia que reconhecessem “pelas entranhas de Deus” a possibilidade de estarem errados. Tal linguagem mostra que Cromwell sabia que nada lhes poderia impor, embora procurasse, com reverência, pelo menos, levá-los a perguntarem-se sobre a possibilidade de estarem errados. O mesmo Cromwell também disse:
“É mais grave o risco do perigo provocado pela desunião entre nós do que por qualquer coisa que parta dos nossos inimigos”.
Pastor Glauco Barreira Magalhães Filho (21.01.2009)
Comments