Há algum tempo atrás, uma pessoa de nossa igreja chegou para mim e disse friamente que pretendia pintar os seus cabelos para esconder uns fiapos brancos praticamente invisíveis que começavam a brotar. Na oportunidade, eu lhe esclareci de que o que pretendia fazer era errado. Apesar de não refutar nem um dos argumentos e versículos que coloquei, ela me disse que mesmo assim iria fazer aquilo, pois essa era a sua vontade. No final, ela perguntou-me: “Eu deixarei de ser salva por causa disso?”. A pergunta tinha um tom irônico. O seu objetivo era fazer-me sentir um monstro caso quisesse condenar alguém por uma coisa “tão pequena”. Além disso, a pessoa queria saber se eu diria que inúmeras pessoas em igrejas mais liberais estariam condenadas.
Antes de tudo, eu gostaria de esclarecer que o mal não consiste em pintar os cabelos em si, mas no que isso representa.
Na Idade Média, não havia interesse em pintar cabelos brancos. As pessoas tinham a expectativa de uma vida curta em razão das guerras frequentes e pestes constantes. Isso fazia com que elas olhassem para a outra vida com maior intensidade. Essa era uma grande oportunidade para o evangelho, mas foi também uma situação aproveitada pelo catolicismo para exploração e manipulação do povo (ex.: venda de indulgências). Nesse período histórico, os cabelos brancos eram avaliados positivamente, pois serviam de lembrança da brevidade da vida e da urgência de estar corretamente relacionado com Deus antes de morrer.
A Idade Moderna foi marcada pelo antropocentrismo e pelo racionalismo. Deus e a revelação foram tirados do centro do mundo, sendo o homem e a razão colocados nesse lugar. A crença no progresso através da ciência foi fortalecida por inúmeras descobertas científicas, principalmente de medicamentos. A esperança de longevidade aumentou.
Agora, as pessoas ficam doentes, mas estão sempre na expectativa de que nunca vão morrer. Há sempre a esperança de surgir um novo tratamento ou um novo medicamento que resolva o problema. Nesse contexto, há um tabu social contra o assunto da morte. Ninguém deve falar em morte. As pessoas agem como se fossem viver para sempre. Assim, os sinais de proximidade da morte devem ser escondidos não apenas por causa dos que os têm, mas também por causa dos outros, que não querem lembrar que vão morrer. Se uma mulher não tinge o cabelo, ela aborrece aquela que tem a sua mesma idade e o tinge. A que tinge vê o seu envelhecimento na outra e se revolta. Ela passa a cobrar da outra que pinte os cabelos, exige que a outra atenda à “norma social” e deixe de ser “descuidada”.
A tintura de cabelo reflete o espírito do mundo moderno, contrário a Deus e a revelação. A Bíblia diz que os cabelos brancos são símbolos de honra e maturidade (Prov. 20:29, Prov. 16: 31; Lev. 19: 32). Quem os interpreta da forma mundana contesta os valores bíblicos. A Bíblia nos ensina a reconhecer essa vida como efêmera e atentar nas coisas eternas (II Cor. 4: 16-18).
Pintar os cabelos brancos indica uma não aceitação das coisas como são. Para um filósofo estóico (assim o coloco para envergonhar os “cristãos”), tingir os cabelos seria uma revolta contra a administração que Deus dá ao universo. Para um existencialista legítimo seria uma alienação existencial, pois a pessoa, não suportando o fardo da própria existência, se projetaria em outra que ela não é ou já foi.
Pintar os cabelos brancos revela uma vida fútil, mundana e centrada no ego. Não sei o que diria para as pessoas de igrejas liberais, pois, onde tudo começou anormal, é difícil saber o que esperar de normal. Eu sei, porém, o que dizer a quem aprendeu em uma igreja bíblica. Se você está numa crise espiritual e pintou os cabelos, mas sabe que está errada e se angústia pelo que fez, é possível que você seja uma verdadeira cristã em luta passageira. Você deixará de pintar os cabelos e vencerá pelo arrependimento e busca de Deus. No entanto, faça isso logo antes que você perca mais tempo de sua vida em angústias desnecessárias. Se, porém, você aprendeu a verdade, mas, agora, resolveu pintar os seus cabelos, fazendo isso friamente e sem pesar, não se interessando pela posição bíblica ou pela opinião de homens de Deus, você não é uma pessoa salva. O seu pecado não é pintar os cabelos. Pintar os cabelos é o sintoma do seu pecado. O seu pecado é viver uma vida centrada em si mesma (o), ignorando voluntariamente a vontade de Deus.
Finalmente, eu gostaria de deixar uma palavra aos que não são crentes. Não pensem na salvação em termos de deixar pintar os cabelos. Pensem noutras partes desse artigo. Pensem na temporalidade da vida e na realidade da eternidade. Pensem na morte e no que os espera. Pensem na necessidade de se reconciliarem com Deus mediante Cristo. É verdade que vocês precisam de arrependimento, mas não pensem o arrependimento primeiramente em termos de pecados particulares, pois eles tais pecados são os “frutos”, mas não são a “raiz”. Arrependam-se de uma vida centrada em si mesmos e em seus relacionamentos horizontais. Voltem-se para o alto, para Deus mediante Cristo. Quando fizerem isso de verdade, eu não precisarei insistir no que devem fazer, pois vocês saberão! Quando me converti em casa pela leitura pessoal da Bíblia, eu passei uns dois meses sem ir a igreja, pois a minha família católica me impediu. Nesses dois meses sem pastor e igreja, eu já tinha mudado a aparência, as conversas, os valores... Foi espontâneo... Nasci de novo! Glória a Deus! Essa benção é para você também!
Pr. Glauco Barreira M. Filho (09.04.2011)
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