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Foto do escritorPastor Glauco Barreira M. Filho

Pedro não foi papa



Retrato do papa Clemente IX, 1669 por Carlo Maratta



Quando Jesus perguntou aos seus discípulos QUEM eles diziam que ele era, Pedro, tomando a palavra, falou em nome de todos, dizendo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16: 16). Nesse momento, nos evangelhos de Marcos e Lucas, a narrativa desse diálogo termina. Mateus, por sua vez, registra as palavras que Jesus disse a Pedro em seguida a isso. Os outros evangelistas não registram a narrativa subseqüente de Mateus porque ela não acrescenta novas informações teológicas, antes, tão somente confirma a confissão de Pedro.


Mateus diz que Jesus felicitou Pedro pela confissão acertada que fizera, assegurando que ele falara por revelação do Pai (Mateus 16: 17). Depois disso, Jesus disse:



“Pois também eu te digo que tu és Pedro e SOBRE ESTA PEDRA edificarei a minha igreja...” (Mateus 16: 18).



O nome masculino “Pedro” vem de “petros” (grego), que significa “fragmento”, mas “pedra”, termo feminino, vem de “petra” (grego), que significa uma grande rocha. Jesus disse que, apesar de Pedro ser apenas um fragmento, a sua confissão (ou aquele a quem ele confessara) era uma rocha. A “pedra” era a confissão de Pedro (a divindade de Cristo) e não o próprio Pedro. Se Jesus quisesse dizer que a pedra era Pedro, ele teria dito: “sobre TI edificarei a minha igreja”.


Pedro, inconstante, jamais poderia ser o sustentáculo da igreja. No mesmo capítulo 16 de seu evangelho, Mateus narra:



“E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreende-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele (Jesus), porém, VOLTANDO-SE, DISSE PARA PEDRO: PARA TRÁS DE MIM, SATANÁS, QUE ME SERVES DE ESCÂNDALO...” (Mateus 16: 22, 23).



O próprio Pedro disse que Jesus era a “pedra” (Atos 4: 11, 12; I Pedro 1: 4, 6, 7). Paulo diz que “a pedra era Cristo” (I Cor. 10: 4) e que “ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (I Cor. 3: 11).


Paulo diz explicitamente que Jesus é a pedra sobre a qual a igreja está edificada:



“...de que JESUS CRISTO É A PRINCIPAL PEDRA DA ESQUINA; NO QUAL TODO EDIFÍCIO, BEM AJUSTADO, CRESCE PARA TEMPLO SANTO NO SENHOR, NO QUAL TAMBÉM VÓS JUNTAMENTE SOIS EDIFICADOS PARA MORADA DE DEUS NO ESPÍRITO.” (Efésios 2: 21-22)



Jesus mandou Pedro apascentar ovelhas (“Apascenta as minhas ovelhas” – João 21: 16, 17) e não pastores. Ele era pastor de ovelhas e não um pastor de pastores. Ele nunca foi príncipe entre os apóstolos. Quando ele quis saber sobre a vida do apóstolo João (“Senhor, e deste que será?” – João 21: 21), Jesus lhe respondeu: “Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu” (João 21: 22).


Paulo mostra que a reputação de Pedro não o colocava em superioridade a Tiago e João:



“E conhecendo Tiago, Cefas (= Pedro) e João, que eram CONSIDERADOS COMO AS COLUNAS...” (Gálatas 1: 9)



Ainda, assim, Paulo não considerou a reputação desses três como sinal de qualquer superioridade em relação aos demais:



“E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram” (Gálatas 2: 6)



Paulo não temeu repreender a Pedro abertamente:



“E, chegando Pedro a Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.... disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como os judeu, por que obrigas os gentios a viverem como os judeus?” (Gálatas 2: 11 e 14).



No Concílio de Jerusalém, o primeiro da história da igreja, Pedro e Paulo trouxeram elementos fáticos que informaram a decisão, mas foi Tiago quem deu a palavra decisiva e final (Atos 15: 13- 22). Tiago tinha maior destaque que Pedro na igreja pioneira de Jerusalém. Quando Paulo foi a Jerusalém, reuniu-se com os presbíteros da igreja na casa de Tiago (Atos 21: 18). Os crentes de Jerusalém, como disse Paulo, eram “da parte de Tiago” (Gálatas 2: 12).


Pedro se submetia ao colégio apostólico:



“Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, ENVIARAM lá Pedro e João” (Atos 8: 14).



Pedro nunca disse que era papa, nem a Bíblia nunca fala em sucessão papal. Não há também nenhuma prova de que Pedro tenha sido bispo de Roma. Na carta de Paulo para a igreja de Roma, ele manda saudação para muita gente (Romanos 16), mas nunca fala em Pedro. Trata-se de uma carta para corrigir erros doutrinários, mas isso seria desnecessário se Pedro estivesse lá.


Pedro, diferentemente dos papas, não acredita que tenha poder de perdoar pecados:



“Mas disse-lhe Pedro:.... Arrepende-te, pois, dessa tua iniqüidade e ORA A DEUS, PARA QUE, PORVENTURA, TE SEJA PERDOADO O PENSAMENTO DO TEU CORAÇÃO” (Atos 8: 20-22).



É verdade que Pedro recebeu as chaves do Reino dos Céus (ministério de pregação), mas todos os apóstolos também receberam. Eis o que Jesus disse aos doze reunidos:



“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (Mateus 18: 18)



Pedro, diferentemente dos papas, não aceitava que alguém se curvasse perante ele:



“E, aconteceu que, entrando Pedro, saiu Cornélio a recebê-lo e, prostrando-se a seus pés, o adorou. Mas Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que eu também sou homem” (Atos 10: 25-26)



Pedro, diferentemente dos papas, tinha esposa que o acompanhava:



“Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e CEFAS (=Pedro)?” (I Coríntios 9: 5).



A Bíblia, inclusive, menciona que Jesus curou a sogra de Pedro (Marcos 1: 29-31).


Pedro se considerava um pastor como qualquer outro:



“Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou TAMBÉM PRESBÍTERO COM ELES...” (II Pedro 5: 1)



Quando Marcos registra que o anjo disse as mulheres para avisar da ressurreição de Cristo aos discípulos e a Pedro (Marcos 16: 7), isso não indica nenhuma superioridade de Pedro, mas, sim, uma possível discriminação da sua pessoa entre os discípulos pelo fato de ele ter negado Jesus três vezes depois de ter dito que todos os outros negariam menos ele.





Pastor Glauco Barreira M. Filho (16.05.2009)


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