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Foto do escritorPastor Glauco Barreira M. Filho

O cristão e a cultura

Atualizado: 27 de ago. de 2023


Créditos da imagem: Heberth Ventura



“E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens.” (Lucas 2:52)



Jesus nasceu miraculosamente por obra do Espírito Santo, a fim de que não herdasse a corrupção da natureza, comum a todos os descendentes de Adão. Jesus foi o que Adão poderia ter sido, caso não tivesse transgredido a lei de Deus. Cristo desenvolveu todas as suas potencialidades humanas, correspondendo ao modelo de homem que a mente de Deus idealizara quando Ele chamou a existência as coisas que ainda não existiam. Jesus foi um homem verdadeiro, e não apenas um verdadeiro homem.


Segundo o texto de Lucas 2:52, o crescimento de Jesus era proporcional e harmonioso. Na medida em que ele crescia fisicamente (estatura), desenvolvia as faculdades da alma (crescimento em sabedoria), bem como a vida espiritual (crescimento na graça). A sagrada Escritura diz que o amadurecimento progressivo de Jesus se dava no plano espiritual (diante de Deus) e social (diante dos homens).


A salvação do crente não consiste apenas no perdão de pecados pela morte de Jesus Cristo, mas também na participação do cristão em sua vida ressurreta. Jesus morreu a nossa morte, para que vivêssemos sua vida. A nossa redenção inicia-se com o recebimento de Jesus em nosso coração através da fé, e tem o seu prolongamento através de um processo mediante o qual Jesus vai se formando em nós de dentro para fora. Na medida em que projetamos a vida de Cristo, voltamos ao modelo da criação e restauramos a verdadeira humanidade, chegando “a perfeita varonilidade, a medida da estatura da plenitude de Cristo”. (Efésios 4:13)


Como Jesus, nós, cristãos anabatistas e cristãos de origem puritana, pretendemos não apenas crescer na graça, o que está em primeiro lugar, mas também crescer em sabedoria, e isso, tanto diante de Deus, como diante dos homens (para a glória de Deus). Lembro que esse crescimento diante de Deus não consiste em exibicionismo, mas na conversão da piedade em caridade, e da sabedoria em serviço.


Ser cristão não é ser ignorante ou improdutivo, mas sábio e trabalhador. O crente tem uma motivação superior para desenvolver os seus dons naturais: a glória de Deus.


Lutero disse aos conselheiros da Alemanha: “Se tivesse filhos e pudesse dar conta disso, eu os teria a estudar não apenas línguas e história, mas também canto e música, juntos à matemática ... os gregos antigos treinaram seus filhos nestas disciplinas: eles cresciam para serem pessoas de habilidades extraordinárias, subsequentemente aptas para tudo”. Richard Baxter, famoso pregador inglês, escreveu “Nossa física, que é uma grande parte da aprendizagem humana, não passa do conhecimento das obras admiráveis de Deus; e terá algum homem a coragem de chamar-se criatura de Deus, e ainda reprova-la como vã aprendizagem humana?”.


O reformador João Calvino escreveu sua famosa obra, intitulada INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ, abordando vários temas (ciência política, filosofia, teologia, pedagogia, etc), sendo esta obra considerada a mais erudita do século XVI. Jonathan Edwards, o grande avivalista e teólogo do século XVIII, foi o maior filósofo da Nova Inglaterra.


William Carey, o pai das missões protestantes modernas, foi um sapateiro que frequentou a escola até a idade de doze anos. Autodidata, recebeu o título de Doutor em divindade da Brown University e foi membro de três sociedades científicas com sede em Londres, sendo apaixonado por linguística, botânica, história e geografia. Organizou a sociedade de Agricultura e Horticultura da Índia. Traduziu toda a Bíblia para três diferentes línguas e partes dela para outras línguas. Escreveu dicionários e gramáticas. Lecionou línguas orientais no Fort William College, em Calcutá.


Báes Camargo, falando sobre John Wesley, pregador do século XVIII e fundador do metodismo disse:



“Desde logo, ele mesmo encarnava uma cultura seleta e esmerada. Professor de grego em Oxford, chegou a ser erudito nessa língua. Diz-se que era mais fácil recordar passagens do novo testamento em grego ... do que em sua própria língua materna, o inglês. Também conhecia muito bem o hebraico e o latim. Para sua escola de Kingswood escreveu gramáticas de inglês, latim, grego, hebraico e francês. Deste último idioma e do alemão traduziu uns 40 hinos.”


“Era um leitor voraz e assíduo. Lia quando viajava em carruagem. Lia quando ia a cavalo. E lia sobre uma grande variedade de assuntos, e não somente os religiosos. Por exemplo, tinha um interesse especial pela física, e, dentro dela, pela eletricidade que era a maravilha da época. Devorou tudo o que caiu em suas mãos dos escritos de Franklin, Priestley e outros físicos famosos daquele tempo. Fazia ele mesmo experimentos com máquinas elétricas. De modo particular lhe interessava a aplicação da eletricidade à medicina, outra ciência que também estudou com empenho. Até escreveu um curioso livro intitulado ‘física primitiva’.”


“As seus pregadores prescrevia cursos de leitura sistemática, sobre os quais se lhes examinava. Exigia-lhe quando menos cinco horas de cada vinte e quatro, dedicadas a leitura de livros mais úteis. Sem ler extensamente, dizia, ninguém pode ‘ser jamais um pregador profundo nem tampouco um completo cristão’. Sua pregação seria como sal que havia perdido seu sabor. Na primeira conferência (1744) lhes recomendou estudar entre outra coisa, especialmente o Novo Testamento em grego, Platão, Homero, Virgílio, Epicteto, Horácio, Júlio César, Erasmo e Pascal, ao lado dos tratados metodistas ... “


”Este interesse na leitura, no estudo e no cultivo da mente, passou ao metodismo norte americano desde seu início. A conferência de Baltimore (1784) pôs em sua disciplina, entre as regras para a vida do ministro, esta recomendação: ‘ler os livros mais úteis, e fazê-lo regular e constantemente. Sem interrupção, dedicar toda a manhã a essa ocupação, ou ao menos cinco horas de cada vinte e quatro. Todavia não tendo gosto pela leitura, adquira esse gosto por meio de prática, ou volte ao teu anterior ofício.”


“Além de pregar durante sua vida uns 46.000 sermões, Wesley escreveu e publicou folhetos e livros que, segundo cálculos, alcançariam uns 233. Redatou 118 revistas e condensações de livros de teologia, história, biografia, poesia, política, filosofia natural e medicina. Preparou e publicou obras volumosas sobre história, ciências naturais e poesia. Em 1753 publicou seu 'complete English Dictionary, Explaning most of the hard common sense’." (GÊNIO E ESPÍRITO DO METODISMO WESLEYANO, p. 43,44,45).



Santo Agostinho ensinava que a queda prejudicou a razão humana, mas através da fé em Cristo, ela era recolocada nos trilhos corretos para pensar acertadamente (“a fé ilumina a razão”). Salomão diz que o “temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. A sabedoria é o correto direcionamento do conhecimento.


Os fariseus ficaram surpresos pelo fato de Pedro e João falarem com tanta sabedoria, sendo estes, homens iletrados. Os doutores da lei ficaram admirados da sabedoria do Mestre, quando este tinha doze anos. O rei Félix, ao ouvir o discurso de Paulo, disse que as muitas letras o tinha levado ao delírio. Ainda convém lembrar o debate de Paulo com os filósofos em Atenas, ocasião em que mostrou o seu conhecimento da poesia grega, bem como argumentou com lógica irrefutável.





Pastor Glauco Barreira M. Filho (Jornal Trombeta de Sião, ano I, número 5, 1997)




Créditos da digitação: Heberth Ventura

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