Os Petrobrussianos e suas crenças
- Heberth Ventura
- 4 de mar.
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Atualizado: 5 de mar.

Crédito da imagem: Warley Frota
Pedro de Bruys é uma figura pouco estudada na história do Cristianismo, principalmente porque as informações disponíveis sobre ele provêm, em grande parte, de seus opositores. No entanto, essa escassez de registros não diminui a importância de seu papel na defesa da mensagem apostólica.
Sem documentos que atestem sua data de nascimento, sabe-se apenas que Pedro era natural de Bruys, no sudeste da França. Acredita-se que um de seus escritos tenha sobrevivido, a obra intitulada O que é o Anticristo (1120). Embora pouco analisado, esse tratado parece possuir grande profundidade teológica e, segundo alguns estudiosos, guarda uma estreita relação com a confissão de fé valdense do mesmo período.
Apesar das incertezas, é possível compreender seu caráter, comportamento e ensinamentos ao examinar criticamente os relatos de seus opositores. Na Encyclopedia of Religious Knowledge (1854), de John N. Brown, página 276, Pedro de Bruys é descrito como um reformador muito anterior à Reforma do século XVI. Homem simples, mas profundamente comprometido com a verdade bíblica, ele é frequentemente comparado ao apóstolo Pedro dos Evangelhos. Destacava-se como evangelista zeloso, piedoso e eloquente na exposição das Escrituras, sendo também firme e fiel em sua interpretação do texto sagrado.
O historiador americano Berlin Hisel, em sua obra Baptist History Notebook, sugere duas possibilidades para explicar por que Pedro de Bruys abandonou a batina para se tornar um fervoroso pregador das Escrituras, em algum momento entre os anos de 1100 e 1104.
A primeira hipótese considera que, mesmo dentro do sistema romanista, houve dissidentes que proclamaram a verdade bíblica, como Cláudio de Turim, no século IX. Sua mensagem impactou amplas regiões da França e pode ter perdurado até o século XII. Cláudio defendia que qualquer um que buscasse a salvação fora de Cristo era um idólatra. De acordo com H.H. Muirhead, esse destemido pregador se opôs à idolatria, à oração pelos mortos, à adoração à cruz (crucifixo) e denunciou o sistema romanista de salvação pelas obras. Assim, é possível que Pedro de Bruys tenha sido influenciado por seus ensinamentos.
A segunda possibilidade, considerada por Hisel como a mais provável, é que Pedro de Bruys tenha sido influenciado por grupos anabatistas já estabelecidos no sul da França, como os Albigenses e os Valdenses—termos frequentemente usados para se referir aos anabatistas da região. Após sua conversão, Pedro teria se unido a esse movimento. O historiador batista G.H. Orchard, em sua obra A Concise History of Baptists (1838), afirma que ele foi um dos principais mestres entre os Albigenses e Valdenses. Além disso, registros dos irmãos do Vale de Piemonte colocam Pedro de Bruys no topo da lista de pastores do movimento, o que sugere que ele foi um dos principais divulgadores da mensagem valdense antes mesmo de Pedro Valdo ingressar no movimento posteriormente.
Após conhecer a verdade, Pedro de Bruys dedicou-se com diligência à pregação do Evangelho, enfrentando inúmeros perigos para proclamar a salvação exclusivamente pela fé em Cristo. Como evangelista, percorreu diversas cidades francesas, incluindo Dauphiné, Provença, Languedoc e Gasconha, conduzindo muitos homens e mulheres à fé no verdadeiro Evangelho.
O movimento petrobrussiano, assim como muitos outros movimentos anabatistas ao longo da história, buscava restaurar o cristianismo puro apresentado nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos. Seu propósito era tanto resgatar a Igreja à sua pureza original quanto preservá-la, mesmo diante de severas perseguições.
Pelo que já foi exposto, fica evidente que Pedro de Bruys não foi o criador dos princípios bíblicos defendidos pelos petrobrussianos, mas sim um de seus principais porta-vozes. Após sua morte trágica, quando foi queimado por uma multidão enfurecida sob influência das autoridades religiosas em 1130, o movimento anabatista passou a ser chamado de petrobrussiano por um de seus principais opositores: Pedro, o Venerável (1092–1156), abade de Cluny.
Nos registros históricos, costuma-se destacar os cinco artigos de fé dos petrobrussianos, que foram mencionados no tratado Contra Petrobrusianos Heréticos, escrito entre 1139 e 1141. Nessa obra, o abade católico resumiu as crenças do grupo, conforme descreveremos a seguir:
Que a nenhuma pessoa deveria ser administrado o batismo antes de chegar a ter idade suficiente para uso de sua razão. Ou seja, negavam o batismo infantil e a conseguinte salvação batismal.
Que a construção de igrejas suntuosas e cheias de relíquias não eram necessárias para a adoração a Deus e que, portanto, deveriam ser destruídas.
Que os crucifixos como instrumentos de superstição mereciam serem queimados e destruídos de igual modo.
Que o verdadeiro corpo e sangue de Cristo não estão presentes na Eucaristia, mas meramente representados naquela santa ordenança por meio de símbolos e figuras.
Que as orações aos mortos, purgatório e as boas obras a favor dos mortos não os poderiam ajudar.
Os petrobrussianos rejeitavam diversas doutrinas e práticas da Igreja Romana, incluindo a transubstanciação, as rezas pelos mortos, o batismo infantil, a adoração da cruz, a missa, as imagens, as superstições e o culto a Maria.
Além disso, os anabatistas desse período se opunham firmemente tanto às superstições quanto à estrutura hierárquica da Igreja de Roma, que, na época, era uma das principais forças políticas do mundo. No contexto social, religioso e político, o objetivo do romanismo era exercer controle absoluto sobre a sociedade. É importante lembrar que não havia separação entre Igreja e Estado; a Igreja institucional representava a essência espiritual da vida cotidiana, influenciando todos os aspectos da sociedade, como a arte, o comércio e a cultura. Dessa forma, sua influência se estendia não apenas aos seus seguidores, mas a toda a estrutura social da época.
Heberth Ventura
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Referências
BROWN, J. Newton. Encyclopedia of Religious Knowledge: Or, Dictionary of the Bible, Theology, Religious Biography, All Religions, Ecclesiastical History and Missions. Brattleboro, V.T.: J. Steen, 1854.
HISEL, Berlin. Baptist History Notebook. EUA: Baptist Training Center, 2005.
MUIRHEAD, H.H. O Cristianismo através dos séculos. Vol 1. Ed. 4ª, Refundida e ampliada, Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1959.
ORCHARD, G.H. A Concise History of Foreing Baptists: Taken From the New Testament, The First Fathers, Early Writers, and Historians of All Ages. London: George Wightman, Paternoster Row, 1838.
VENERABILIS, Petrus. Tractatus adversus Petrobrusianos. . In: MIGNE, Jacques-Paul . Petri Venerabilis abbatis Cluniacensis noni opera omnia: accurante. Patrologiæ cursus completus: sive bibliotheca universalis, integra, uniformis, commoda, oeconomica, omnium SS. patrum, doctorum, scriptorumque ecclesiasticorum. Lutetiae Parisiorum: Migne, v. 189, 1854.
Pedro de Bruys foi mais um herói da fé que este mundo conheceu. Sua vida foi realmente dedicada a pregação do evangelho e ao serviço na obra de Deus. Que possamos também seguir o seu exemplo de vida e seguirmos a Deus com dedicação.
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