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Foto do escritorPastor Glauco Barreira M. Filho

O método geral de interpretação da bíblia


Crédito da imagem: Heberth Ventura



Durante a Idade Média, como forma de favorecer a manipulações de sentido, a Igreja Católica Romana utilizou deliberadamente o método alegórico de interpretação da Bíblia. Passagens bíblicas de teor notadamente histórico eram interpretadas como se fossem figuras ou metáforas de realidades espirituais, soteriológicas ou eclesiásticas.


O método alegórico de interpretação, sugerido inicialmente por Orígenes, favorecia a duas coisas. A primeira delas era a legitimação a posteriori dos atos e decisões da cúpula eclesiástica. Dentro desse escopo, foi que o próprio Orígenes quis adaptar o pensamento cristão ao pensamento platônico, o qual era objeto de sua devoção intelectual. O amilenismo, por sua vez, foi uma forma de ajustar o esquema profético à posição hegemônica do catolicismo na Idade Média, pois seria muito esquisito manter o pré-milenismo dos antigos pais da igreja diante do aparente triunfo da cristandade no mundo. O pré-milenismo vislumbra o mundo em decadência e a apostasia se disseminando no cristianismo antes da vinda do Senhor.


O segundo objetivo do uso do método alegórico por parte do catolicismo era criar a impressão de que a Bíblia era um livro esotérico de difícil interpretação. Isso afastava o fiel da Bíblia, fazendo-o dependente do magistério da igreja. Vale salienta que, na sociedade pluralista de hoje, a manipulação deliberada do sentido dos textos de valor histórico tem também criado a impressão (justificada filosoficamente) de que a linguagem dos distancia de um sentido objetivo em lugar de nos aproximar.


Os reformadores protestantes rejeitaram o método alegórico para seguir o método histórico-gramatical. Isso, porém, não significava que eles não reconheciam a presença de alegorias na Escritura. O que, porém, eles queriam salientar era que era preciso distinguir “interpretação das Escrituras alegóricas” de “interpretação alegórica das Escrituras”.



“Quando o sentido explícito de um texto das Escrituras fizer sentido, não procure outro sentido; portanto, interprete cada palavra em seu significado primário, comum, usual, literal, a menos que os fatos do contexto imediato, estudados à luz de passagens correlatas e de verdades fundamentais axiomáticas, indiquem nitidamente o contrário.”[1]



Na visão bíblica da interpretação, o intérprete deve examinar o gênero literário de cada livro da Escritura, bem como o contexto imediato das palavras, para saber se uma expressão ou frase está em seu sentido conotativo (figura de linguagem) ou em seu uso denotativo (literal). Isso evita o literalismo ingênuo ou microliteralismo e nos leva ao literalismo sistemático ou macroliteralismo.


Vale salientar que as metáforas bíblicas só são compreendidas pela mediação do sentido literal. Charles C. Ryrie observa:



“Nesse método, todos os símbolos, figuras de linguagem e tipos são interpretados explicitamente e não são contrários, de modo algum, à interpretação literal. Afinal de contas, a própria existência de algum significado numa figura de linguagem depende da realidade do significado literal dos temas envolvidos. As figuras muitas vezes tornam o sentido mais claro, mas é o significado literal, normal, ou explícito que elas comunicam ao leitor.”[2]



A conclusão dos reformadores foi a de que a Bíblia deve interpretar a si mesma. Ela tem sentido intrínseco que pode ser aferido quando se observa o progresso da revelação. As passagens históricas devem ser interpretadas pelas orientações doutrinárias e as passagens obscuras devem ser interpretadas pelas claras. A parte deve ser compreendida pelo todo e o todo pelas partes. A Bíblia deve ser interpretada pela Bíblia:



"As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais." (I Co. 2:13)



Algumas pré-compreensões devem ser estabelecidas a partir da própria Escritura, como as que exemplificativamente colocamos abaixo:



“Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim, porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (João 5: 46, 47)


“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5: 39)


“Estes, porém, foram escritos PARA que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:31)


“Estas coisas vos escrevi, PARA que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do Filho de Deus” (I João 5: 13)


“Porque nele (no evangelho) se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: mas o justo viverá da fé” (Romanos 1: 17)



Há muitos outros exemplos de pré-compreensões, como Eclesiastes 12: 13-14. Essas pré-compreensões são chaves para abrir o sentido. Foi, por exemplo, o texto de Romanos 1: 17 que abriu o sentido da Bíblia para Lutero, levando-o à conversão.




Pastor Glauco Barreira M. Filho




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[1] COOPER, David L. The Word`s Greatest Library: Graphically Ilustrated. Los Angeles: Biblical Research Society, 1970, p. 11.


[2] RYRIE, Charles C. Dispensationalism Today. Chicago: Moody Press, 1965, p. 86-87.


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