Há muita gente que acha que a igreja do século IV formou o cânon do Novo Testamento no Concílio de Nicéia. Defendendo essa informação, o catolicismo argumenta que o Novo Testamento foi criado pela igreja.
Os católicos interpretam que a igreja do século IV era a católica romana. Daí concluem que, se a igreja romana tivesse decidido de outra forma, os livros do Novo Testamento teriam sido outros diferentes dos que hoje estão na Bíblia. Como acreditam que foi a sua igreja quem selecionou os livros que compõe o Novo Testamento, os católicos julgam que somente ela tem o direito de interpretá-los.
A informação, porém, de que o Concílio de Nicéia selecionou os livros do Novo Testamento é falsa. Essa mentira apareceu pela primeira vez em um documento ANÔNIMO chamado Vetus Synodicom, escrito por volta de 887 d.C. Esse documento, cheio de falsidades históricas, traz a seguinte lenda: “Os livros canônicos e apócrifos foram diferenciados da seguinte maneira: na casa de Deus, os livros eram colocados no chão, ao lado do altar sagrado. Então, o conselho orava ao Senhor, pedindo que as obras inspiradas fossem encontradas em cima do altar, como de fato acontecia”. Tais informações, todavia, não constam em nenhum registro sobre o Concílio de Nicéia. Aliás, essa estória é tão ridícula que foi popularizada pelo ateu Voltaire como crítica ao cristianismo.
O barão D`Holbach, em Ecce homo, escreveu:
“A definição dos evangelhos autênticos e espúrios não foi debatida no primeiro Concílio de Nicéia. Essa história é fictícia.”
Erwin Lutzer disse:
“Por mais que tentasse, não achei uma única linha nos documentos sobre Nicéia que registrasse algum debate sobre os livros que deveriam entrar no Novo Testamento. Praticamente, tudo o que sabemos sobre Nicéia vem do historiador Eusébio. Ora, nem ele nem mais ninguém dá qualquer sinal de que tais assuntos tivessem sido debatidos. Vinte decretos foram promulgados em Nicéia, e o conteúdo de cada um deles ainda está disponível. Nem um único diz respeito ao cânon.”
O Concílio de Nicéia tratou apenas da doutrina da Trindade e da divindade de Jesus Cristo.
Em 1740, foi encontrado, pelo historiador Ludovico Antonio Muratori, um documento que passou a ser chamado de Cânone Muratoriano. Esse documento possui todas as características de um documento bem antigo. Trata-se de uma cópia do original. A julgar pelas informações históricas nele contidas, o original deve ter sido do século II (150 anos antes de Nicéia). Nesse documento, consta a lista dos livros do Novo Testamento.
Nas obras de Irineu (século II) e Orígenes (séculos II-III), já se falava dos quatro evangelhos legítimos, sendo rechaçados os falsos evangelhos de Tomé, de Matias e outros. Os Pais da igreja já reconheciam os 27 livros do Novo Testamento, pois eles estão todos citados em seus escritos. Darrel L. Bock (Ph.D.) disse:
“A lista completa de Irineu continha 27 livros, incluindo os quatro evangelhos.”
É interessante observar que, entre os séculos II e III, houve perseguições aos livros sagrados. Houve ordens do Império Romano para que fossem queimados ou destruídos. Ora, a fim de cumprir a ordem de destruir os livros, as autoridades deveriam ser capazes de identifica-los pelos nomes. Aqueles que defenderiam tais livros, por sua vez, precisavam saber por quais deles valeria a pena morrer. Diante de tudo isso, fica claro que o cânon do Novo Testamento já estava pronto nos séculos II e III.
Talvez, agora, alguém pergunte como os livros do Novo Testamento foram reconhecidos. Poderíamos responder que foram reconhecidos aqueles que foram escritos por apóstolos e por quem estava autorizado pelos apóstolos. Isso, todavia, não responde muita coisa, pois restava saber se um livro que vinha com o nome de um apóstolo fora de fato escrito por ele. Lutero disse que a igreja que ouviu o evangelho da voz dos apóstolos procurou esse evangelho nos livros e legitimou os livros onde o encontrou. A resposta de Calvino, porém, foi melhor. Ele disse que o Espírito Santo testificou no coração dos crentes quando liam os livros, fazendo-os saber quais livros eram inspirados. Isso está em plena consonância com João 16: 13:
“Mas, quando vier aquele Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda verdade.”
Os livros do Novo Testamento não foram reconhecidos por Concílio ou Instituição. Nenhuma organização está acima do Novo Testamento. Foi o Espírito Santo quem o reconheceu, sendo ele o seu legítimo intérprete. Não é a igreja que diz o que significa o Novo Testamento, mas é o Novo Testamento que diz o que significa a igreja. O evangelho não nasceu da igreja, mas a igreja nasceu do evangelho. A Bíblia é a única regra de fé e prática. Por ela, qualquer igreja deve ser avaliada! Esse é o grito da Reforma Protestante!
Pastor Glauco Barreira M. Filho (05.05.2009)
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