Crédito da imagem: Heberth Ventura
As Escrituras do Novo Testamento
Parece claro que os escritores do Novo Testamento reconheciam a autoridade das Escrituras do Velho Testamento. A pergunta, entretanto, que muitos poderiam fazer é se eles reconheciam a autoridade de seus próprios escritos. Veremos que sim.
O apóstolo Paulo fala que seus escritos eram verbalmente inspirados por Deus (Efésios 3: 3 e 4; I Cor. 2: 13), enquanto Pedro chama as epístolas de Paulo de “Escrituras” (II Pedro 3: 16). Paulo citou um texto do evangelho de Lucas (Digno é obreiro do seu salário) ao lado de um texto do Velho Testamento, chamando-os de Escritura (I Timóteo 5: 18). Pedro também proclama a autoridade de sua mensagem e a nivela com a palavra dos profetas (II Pedro 1: 16 – 21). João também testifica da infalibilidade de seu evangelho (I João 21: 24) e de suas epístolas (I João 4: 6). No Apocalipse, o próprio Jesus disse a João: ESCREVE (Apoc. 1: 19). Sobre a autoridade do Apocalipse, leia-se Apoc. 22: 18, 19.
Paulo disse que os seus leitores piedosos reconheceriam a inspiração de seus escritos (I Cor. 14: 37; Efésios 3: 4). Isso confirma a palavra de Calvino segundo a qual o consenso da igreja é somente um meio secundário de constatar a inspiração da Bíblia, pois o meio primário é o testemunho do Espírito no coração do leitor. Deus, mediante seu Espírito, dá testemunho do santo livro. O seu testemunho é maior que o dos homens (João 5: 32, 34; I João 5: 9)..
Paulo ordenou que suas epístolas fossem lidas publicamente nas igrejas:
“E quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses; e a que veio de Laodicéia, lede-a vós também.” (Colossesnses 4: 16).
Alguém talvez indague acerca dessa carta que veio de Laodicéia. Não se trata de uma carta perdida que foi escrita à igreja de Laodicéia, mas de uma carta que circulava na Ásia e que vinha de Laodicéia. Trata-se da Carta aos Efésios. Esta epístola foi, na verdade, endereçada a todas as igrejas da província da Ásia, dentro da qual se situavam Éfeso e Laodicéia. Também não há uma carta perdida que foi escrita a igreja de Corinto. Quando Paulo diz “já por carta vos tenho escrito” (I Cor. 5: 9), ele queria dizer apenas que já havia dito aquilo, não em outra carta, mas naquela mesma carta.
Paulo diz que a primeira epístola aos tessalonicenses devia ser lida publicamente:
“Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos.”
Paulo mostra que suas epístolas são base para disciplinar irmãos em desobediência (II Tessalonicenses 3: 14).
Com os apóstolos e seus assessores foi concluída a escrita da Bíblia :
“da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para cumprir a palavra de Deus.” (Colossensses 1: 25)
Por tudo isso que foi dito, duas coisas ficam claras: 1) os apóstolos e escritores do Novo Testamento tinham conhecimento de sua inspiração; 2) o crente tem o testemunho do Espírito a favor das Escrituras, inclusive do Novo Testamento.
A Bíblia como fundamento da Igreja
“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina.” (Efésios 2: 20)
Uma das questões mais polêmicas da Reforma era sobre a relação entre a Igreja e a Escritura (Palavra de Deus). De acordo com o catolicismo romano, a Igreja fazia parte do plano de Deus concebido antes da fundação do mundo, mas a Escritura fora uma forma acidental de a Palavra de Deus aparecer. Por esse motivo, catolicismo dizia que a Escritura tinha sua autoridade derivada da Igreja, que lhe dava reconhecimento (a igreja precedia a Escritura). Desse modo, a igreja não podia ser julgada pela Escritura, mas a Escritura deveria ser interpretada pela igreja de acordo com as suas práticas. A Bíblia seria um instrumento de legitimação da Igreja, não o padrão para sua avaliação.
Para os reformadores, porém, a Igreja deveria ser julgada pelas Escrituras, pois a Palavra de Deus precederia a Igreja - A Igreja nasce do evangelho, não o evangelho da Igreja. O texto de Efésios 2: 20 fala que a Igreja está fundada no ensino dos apóstolos e profetas (Palavra de Deus).
O Novo Testamento não surgiu incidentalmente quando a igreja pegou documentos (cartas, narrativas) e os validou, pondo-os numa coletânea. A feitura da Bíblia estava nos planos eternos de Deus. O Senhor mandou Moisés e outros profetas escreverem livros. Jesus disse a João para escrever o Apocalipse (Apoc. 1: 19).
João viu o livro do apocalipse nas mãos de Deus antes de escreve-lo (Apocalipse 5: 1- 3). Assim como Moisés viu o modelo do tabernáculo celeste, e, em seguida, construiu um tabernáculo terreno com base no celestial, os escritores sacros tiveram um modelo celestial da Escritura antes de escreve-la. Ezequiel “comeu” o livro divino antes de escreve-lo (Ezequiel 3: 1 – 4).
A Escritura é desde a eternidade. Nós a encontraremos no céu. Em Daniel 10: 21, o anjo diz a Daniel: Mas eu te declararei o que está escrito na escritura da verdade. Ora, essa Escritura só pode ser a celestial. Em Romanos 9: 17, a Bíblia diz:
“Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei...”
As palavras acima foram ditas por Moisés a Faraó antes de terem sido escritas por ele, mas a Bíblia diz que a Escritura disse a Faraó. Isso se deve ao fato de que palavra de Deus antes de ser escrita pelo homem, já está na Escritura celestial (modelo). A Escritura é eterna, concebida antes da fundação do mundo. É o fundamento da Igreja. A Bíblia não é palavra de Deus porque a Igreja assim a reconheceu, mas a Igreja a reconheceu porque ela é a palavra de Deus. Sabemos de sua inspiração não primariamente pelo consenso da Igreja, mas pelo testemunho do Espírito em nosso coração.
A Igreja (comunidade dos regenerados) nasce da Palavra, que é eterna:
“Sendo renascidos, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre.... mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada.” (I Pedro 1: 23 – 25)
Pr. Glauco Barreira M. Filho (05.11.2008)
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