Muitos hoje se intitulam anabatistas e dizem ser seus herdeiros, mas vivem num espírito escapista e covarde em relação aos assuntos relacionados a política. Esquecem que a posição do anabatismo clássico sempre foi baseada no compromisso cristão com a verdade e não na indiferença religiosa. O mesmo grupo que vive fugindo da responsabilidade de confrontar o mal, se justifica dizendo que o anabatismo foi contra a existência do Estado. O anabatismo no curso dos séculos e em particular no século XVI, foi um movimento de restauração à igreja apostólica, mas nunca um povo que negou o direito do Estado existir. A grande questão é, embora fosse instituído por Deus, o Estado não era a autoridade suprema sobre todas as coisas. Os nossos irmãos anabatistas insistiram na separação da Igreja e do Estado e com base nas Escrituras proclamaram que o Estado tinha uma autoridade temporal e limitada.
Paulo em Romanos 13 deixa claro que a autoridade e escopo do Estado são limitados. Essa limitação foi instituída por Deus, que é a autoridade suprema. O escrito paulino deixa claro, portanto, que existe uma autoridade delegada ao Estado e que essa não é absoluta. Devemos sempre estar atentos no seguinte: Quando o Estado faz algo que Deus autoriza a fazer, o crente deve obedecer. Quando não faz, o crente não precisa obedecer e muitas das vezes será necessário resistir. Foram o que os anabatistas fizeram em praticamente todos os séculos, onde eram confrontados e instigados a realizarem algo que o Estado não tinha competência para realizar. Engana-se quem acredita que eles foram desobedientes por serem um povo orgulhoso e obstinado. Pelo contrário, havia um temor genuíno a Deus, cumprindo a obrigação moral de que importa obedecer a Deus do que aos homens (Atos 5:29). A história da Igreja também deixa claro que esse espírito de resistência e de confrontação de poderes eram fundamentados através da pregação profética e não através do uso da violência.
Romanos 13:1-7 e 1 Pedro 2:13-17 mostram de forma claríssima os propósitos básicos do Estado. Os textos nos dizem que o Estado foi constituído para manter a justiça e punir o mal. Portanto, estão a falar de um Estado protecionista, criado para proteger direitos. Os anabatistas também tinham uma profunda visão da pecaminosidade humana. Por causa da capacidade do homem de sair do controle e da constante tentação de tomarem o poder de forma injustificada para si mesmo, os poderes humanos devem ser limitados. A concepção bíblica de governo designa-se por cada instituição manter-se em sua esfera de atuação, e que o governo possa ter um sistema de freios e contrapesos.
Por isso os servos do Senhor devem erguer a voz profética convocando todo e qualquer governo, que descumpra com a sua missão estabelecida por Deus, ao arrependimento.
No amor e na paz do Espírito,
Heberth Ventura
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