Crédito da imagem: Heberth Ventura
A igreja visível de Jesus Cristo foi fundada no século l, e no final deste século morreu o último apóstolo. No século ll, depois que a igreja passou por grande perseguição, muitos dos que tinham negado a fé, e traiçoeiramente entregado os irmãos aos inimigos apresentaram-se para novamente serem recebidos como membros. Muitas congregações receberam sem nenhuma exigência os traidores da fé, enquanto as igrejas pastoreadas por Montano e outros recusaram-se a fazê-lo. Montano dizia que os apóstatas evidenciaram pelo seu comportamento que nunca tinham sido verdadeiros crentes, e então, exigia deles frutos de arrependimento que assinalassem uma verdadeira conversão, e depois disso os tais deveriam ser novamente batizados, sendo que o novo batismo é que seria o primeiro e verdadeiro batismo. Foi por este fato que passaram a chamar os montanistas de ANABATISTAS (Rebatizadores):
"Insistiam em que os que tinham abjurado a fé sob a perseguição, provaram por este ato que NUNCA foram crentes e para serem readmitidos na igreja deveriam ser rebatizados, e é por isso que são chamados, por alguns autores modernos "ANABATISTAS." (O CRISTIANISMO ATRAVÉS DOS SÉCULOS, Muirhead, Volume l, 3ª edição, Casa Publicadora Batista, 1951,p. 86)
Os montanistas não fizeram nenhuma inovação, mas simplesmente deram continuidade a igreja apostólica:
"...sustentavam as doutrinas básicas das igrejas apostólicas..."(Idem) "Não foi uma nova forma do cristianismo: foi a volta ao velho; à igreja primitiva, em oposição à corrupção do Cristianismo corrente, A velha igreja exigia pureza de vida; a nova tinha entrado em combinação com o mundo e estava satisfeita com o arranjo, e por isso, eles romperam com ela." (SHAFF-HERZOG ENCYCLOPAEDIA, Il, p. 1562)
Os montanistas tiveram duas significativas mártires: Perpétua e Felicidade, sendo impossível não se emocionar com "A paixão das Santas Felicidade e Perpétua". Contudo, sua maior conquista foi o brilhantíssimo Tertuliano, o maior apologista da religião cristã de todos os tempos, e o primeiro a formular de forma sistemática a doutrina da Trindade. Tertuliano, antes de filiar-se ao montanismo, "tinha escrito muita coisa sobre a IGREJA VERDADEIRA, tendo por fim descoberto que ela estava entre os anabatistas-montanistas. A maior obra de Tertuliano foi escrita sob o ponto de vista montanista, e isto muito animou e fez crescer o florescente movimento de revivicação espiritual. Irineu, ilustre doutor da igreja antiga, foi simpático ao movimento e procurou evitar a sua condenação pela igreja fria, o que não adiantou muito.
O historiador Williston Wolker disse que o Montanismo foi "um movimento de origem distintivamente cristã" e afirmou que Tertuliano foi "o homem que tinha a mais profunda consciência do pecado que encontramos em qualquer outro homem, depois de Paulo até os seus dias". Eusébio relata que a literatura montanista teria gozado de vasta aceitação entre os cristãos da Gália e que estes teriam advogado uma atitude mais simpática para com o movimento. Segundo o mesmo relato, eles teriam intercedido em favor dos montanistas diante do bispo romano Eleutério, exibindo várias cartas endereçadas por seus mártires aos cristãos da Ásia e da Frígia. No norte da África os montanistas parecem ter encontrado ainda mais simpatia.
No tempo de Epifânio, o movimento parece ter tido adeptos na Frígia, Galacia, Capadócia, Cilícia e em Constantinopla. Há evidência de que os sucessores de Constantino tenham repetidamente criado leis contra os montanistas.
"O movimento espalhou-se rapidamente por toda a Ásia Menor, Norte da África e ganhou muitos adeptos mesmo em Roma, conquistando a simpatia dos moralistas e pios. As doutrinas de Montano ganharam tanto terreno especialmente na Ásia Menor, que houve diversos concílios para suprimi-las, e por fim, foram oficialmente condenadas. O movimento, porém, continuou por séculos, e oportunamente foi incorporado em outros movimentos reformadores. Na Frigia, Os montanistas entraram em contato com os paulicianos e, provavelmente com eles se fundiram." (O CRISTIANISMO ATRAVÉS DOS SÉCULOS, p.87)
"Alguns Batistas também se dizem herdeiros de uma sucessão apostólica. Apesar da apostasia da maioria, algumas igrejas seus pastores guardam a fé apostólica. Grupos conhecidos como MONTANISTAS, novacianos, valdenses e anabatistas permaneciam fiéis aos princípios apostólicos, hoje defendido pelos batistas." (TEOLOGIA DOS PRINCÍPIOS BATISTAS, John Ianders, p.96)
O movimento Montanista foi confirmado por Deus através do derramamento pentecostal do Espírito Santo.
"Quando Montanus terminou de ser batizado (156) entrou em êxtase e começou a falar em línguas. A maioria das pessoas não sabia mais do que se tratava. Apenas duas mulheres souberam.. ○ trio piedoso, formado por Montanus, Prisca e Maxmila, queria testemunhar com sua glossolalia que a Igreja de seus dias era pobre em relação à Igreja antiga, pois lá a glossolalia fora algo normal." (A IGREJA NO IMPÉRIO ROMANO, Martin N. Dreher, p. 36)
Vejamos agora algumas características do Montanismo:
1)Ênfase na piedade: “No entanto, o fato de que Tertuliano e outros entendiam o montanismo como pneumático e reformador, disseminado em quase todo o mundo cristão da época, parece implicar que o montanismo foi recebido como uma renovação e continuação da Piedade neotestamentária.” (VOX SCRIPTURAE, 4:2, Setembro de 1994, p. 182).
2)Sacerdócio universal de todos os crentes: “Estudando as doutrinas dos montanistas, nota-se que eles se opuseram à hierarquia, sustentaram o sacerdócio universal dos crentes, praticaram rigorosa disciplina...” (O CRISTIANISMO ATRAVÉS DOS SÉCULOS, p. 86), “A hierarquia e o sacramentalismo não eram aceitos pelo movimento.” (A IGREJA NO IMPÉRIO ROMANO, p. 36).
3)Martírio: “O martírio, por seu turno, era supervalorizado.” (A IGREJA NO IMPÉRIO ROMANO, p. 36).
4)Separação da Igreja em relação ao Estado e antimilitarismo: “A importância dessa questão pode ser vista na figura de TERTULIANO, que pode ser caracterizado como o mais ferrenho representante do antimilitarismo... Em seu antimilitarismo, fazia uso do seguinte argumento: Em certa ocasião, Jesus tirou a espada de Pedro. Por isso, a profissão de soldado e a fé cristã são inconciliáveis.” (A IGREJA NO IMPÉRIO ROMANO, p. 32).
5)Não aceitavam mulheres como pastoras: Tertuliano escreveu: “Mas a petulância da mulher, que já usurpou o direito de ensinar, não arrogue também o direito de batizar. Não! A menos que surgissem algumas novas bestas semelhantes à antiga. Aquela pretendia suprimir o batismo; uma outra quer administrá-lo ela mesma. E se essas mulheres invocam os escritos que erroneamente levam o nome de Paulo e citam o exemplo de Tecla para defender o direito de ensinar e batizar, saibam que foi um presbítero da Ásia que elaborou esse escrito, como que cobrindo sua própria autoridade com a de Paulo. Depois de reconhecida a fraude e tendo confessado que agiu por amor a Paulo, foi deposto. De fato, como seria fidedigno que o apóstolo desse à mulher o poder de ensinar e batizar, ele que só com restrição permitiu que as esposas se instruíssem? Disse: Devem silenciar e perguntar a seus próprios maridos em casa”.
6)A Bíblia como única regra de fé: Tertuliano escreveu: “a regra de fé e única, inalterável e irreformável” (De virginibus velandis 1). Mostrando que a fé se baseava na Bíblia e não na filosofia grega (racional), Tertuliano dizia “Jerusalém nada tem a ver com Atenas”, “Creio porque é absurdo”.
Algumas pessoas diziam que o montanismo não cria na Trindade, mas defendia o unitarismo. Isso, todavia, não era verdade, pois é do conhecimento de todos que Tertuliano foi o primeiro a sistematizar a doutrina da Trindade. Tertuliano, em defesa do montanismo, atribuiu ao Parácleto que, segundo cria falava por meio de Montano, as seguintes palavras: “Deus gerou a Palavra, assim como a raiz gera a árvore, a fonte o riacho, o solo o raio” (Adversus Praxaen 8).
Apolônio disse que Montano teria renomeado de "Jerusalém" as pequenas cidades frigias de Pepuza e Timion, dando a entender que o servo acreditava que lá seria o local onde desceria a Jerusalém celestial. Weizsacher, todavia, afirma que "essas duas cidades foram assim denominadas não no contexto da Jerusalém celeste, mas sim no da Jerusalém de Atos - da recriação de uma igreja primitiva altamente organizada mas espiritualmente orientada" Tertuliano (Adversus Marcionem3:24) esperava a descida escatológica da Nova Jerusalém, porém na Judéia, e indicava que a Nova Profecia (Montanismo) teria partilhado dessa mesma esperança. Aproveitamos aqui a oportunidade para dizer que os Montanistas eram pré-milenistas: "Os montanistas também eram pré-milenistas." (OPÇÕES CONTEMPORÂNEAS NA ESCATOLOGIA, Millard J. Erickson, p.79)
Algumas acusações contra os montanistas eram tão aberrantes que não receberam qualquer crédito na época, tais como a acusação feita por Apolônio de que eles eram dados a gula, suborno e imoralidade, e a de que sacrificavam crianças.
Alguns dizem que os montanistas acreditavam numa terceira revelação que estaria ocorrendo diretamente do ESPÍRITO, depois do Antigo e Novo Testamento. Esta acusação é desmentida por Frederick Dale Bruner, que explica que para o montanista a Era do Espírito era apenas o que os pentecostais modernos chamam de CHUVA SERÔDIA, ou seja, o avivamento último da igreja.
Finalmente, Montanismo foi o grito anabatista que até hoje se faz ouvir!
Pastor Glauco Barreira M. Filho
Artigo do Jornal Trombeta de Sião, ano 1, jul de 1998, nº 09
Crédito da digitação: Heberth Ventura
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