Crédito: Heberth Ventura
Como anabatista bíblico, não posso crer na predestinação absoluta nem na eleição incondicional conforme compreendida pelo calvinismo clássico. Creio, por outro lado, que em seus propósitos terrenos (não com respeito ao destino eterno das pessoas), Deus age dentro de uma eleição incondicional. O que quero dizer é que ele chama para ser um pastor ou um missionário, por exemplo, quem ele quer, sem levar em conta talentos ou habilidades naturais precedentes. Isso porque Deus, em sua infinita sabedoria, sabe como dispor de sua obra de modo que o mundo tenha maiores oportunidades de salvação. É dentro dessa premissa que podemos entender Romanos 9.
Vejamos alguns versículos de Romanos 9, bem como os princípios de seu entendimento:
1) “Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho. E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; porque não tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), e foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.” (Romanos 9: 9-12)
O texto acima não se refere à salvação pessoal. Ele trata da escolha da nação de Israel. Deus não escolheu a nação de Israel para salvação, pois muitos israelitas não foram salvos, assim como gentios foram salvos. Deus escolheu Israel para ser a nação da qual viria o Messias e para revelar o seu plano salvador, plano esse que essa mesma nação deveria ter compartilhado com o mundo. Em ambos os propósitos da eleição de Israel, percebe-se uma benção universal.
Sobre o Messias: “... em ti serão benditas TODAS as famílias da terra.” (Gênesis 12: 3)
Sobre Israel pregar ao mundo (o que não fez, mas fará no milênio): “Anunciai entre as nações a sua glória; entre TODOS os povos, as suas maravilhas.” (Salmo 96: 3)
Paulo quando fala da escolha de Isaque ou de Jacó não está falando de salvação. Como Abraão teve mais de um filho, um deles precisava ser escolhido para ser pai da nação. Como Isaque, por sua vez, teve Esaú e Jacó, um deles, no caso Jacó, teve que ser escolhido para ser pai da nação. A Bíblia diz que o maior (Esaú) serviria ao menor (Jacó). Ora, isso nada tem a ver com salvação.
Quando a Bíblia fala de Esaú e Jacó antes de nascerem (no ventre da mãe), não se refere a eles enquanto indivíduos, mas, sim, enquanto nações (Veja Gênesis 25: 21-23).
2) “Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer.” (Romanos 9:18)
O texto acima fala do endurecimento de Faraó. A Bíblia, porém, mostra que o próprio Faraó endureceu o seu coração da primeira até a quinta praga (Êxodo 7: 14, 23; 8: 15, 19, 32; 9: 7). Somente a partir da sexta praga foi que Deus endureceu o coração de Faraó (Êxodo 9: 12).
A palavra “endurecer” significa “fortalecer” conforme os eruditos gregos. Deus não mudou a vontade de Faraó. Quando Faraó quis ceder (contra a sua vontade) por razões emocionais (não queria ver seu povo sofrer com as pragas). Deus fortaleceu Faraó EMOCIONALMENTE para ele manter a decisão que já era expressão de sua VONTADE.
O objetivo de Deus era fazer mais sinais no Egito para que mais pessoas pudessem conhecê-lo. Vemos mais uma vez que o propósito de Deus é universal:
“Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para que O MEU NOME SEJA ANUNCIADO EM TODA A TERRA.” (Romanos 9: 17)
3) “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos 9: 21)
Deus faz vasos para honra e desonra de acordo com o comportamento dos homens. Honra e desonra não se referem à salvação, mas ao uso que Deus faz de nossas vidas nesse mundo. Deus pode fazer de alguém um vaso para honra ou para desonra, mas isso não é incondicional:
“De sorte que, SE ALGUÉM SE PURIFICAR DESTAS COISAS, SERÁ VASO PARA HONRA, SANTIFICADO E PREPARADO PARA TODA BOA OBRA” (II Timóteo 2: 21)
4) “E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para a glória já dantes preparou.” (Romanos 9: 22-23)
Notemos que Paulo não diz que os vasos da ira foram preparados por Deus para a perdição, mas simplesmente que foram preparados (sujeito indeterminado) para a perdição. Na verdade, foram preparados para a perdição por sua própria natureza decaída. Já os vasos de misericórdia forma preparados por Deus para a glória, pois o plano de Deus é para salvar, não para condenar, sendo o homem que cava sua própria condenação (João 3: 17; II Cor. 5: 18, 19).
Os que foram predestinados para a glória foram predestinados com base presciência de Deus que anteviu que creriam:
“Porque os que DANTES CONHECEU, também os predestinou... e aos que predestinou... também glorificou.” (Romanos 8: 29, 30)
Pastor Glauco Barreira M. Filho (04.08.2009)
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