Crédito da imagem: Heberth Ventura
A marca histórica dos batistas é apologia do batismo adulto e voluntário, o qual acontece sob profissão de fé. O Reformador João Calvino, porém, considerava válido o seu batismo infantil na Igreja Romana. Seguem as suas palavras: “... em qualquer tempo em que fomos batizados, somos lavados e purificados de uma vez para toda a vida... deve recorrer-nos a lembrança do batismo, e nossa mente deve armar-se, para que esteja sempre certa e segura da remissão de pecados...” (Institutas, IV; xv, 3). Calvino confiou no seu batismo infantil como prova de que era um dos eleitos (Institutas, IV, xv, 1-6; xvi, 24, etc).
Como Calvino defendia a regeneração antes da fé, não lhe parecia estranho o batismo (figura de regeneração) antes da fé. Para o batista, todavia, a fé antecede a regeneração, sendo o batismo sob a profissão de fé uma representação do processo salvífico no qual a fé ANTECEDE a regeneração.
Dave Hunt disse que Calvino “denunciou todos os que, como evangélicos ex-católicos de hoje, foram batizados após crer no evangelho.” Ele perseguiu violentamente os anabatistas (precursores dos batistas). Certa vez, ele disse: “Não se deve estar contente em simplesmente matar essas pessoas, mas deve-se queimá-las cruelmente.”(Carta de 26 de fevereiro de 1533). Calvino baniu os (ana)batistas de Genebra em 1537.
Dentro de todo esse contexto, pode um batista se chamar de calvinista?
Eu sei que diante da pergunta acima, muitos irão me lembrar que Spurgeon, um renomado batista, se disse calvinista. Vamos examinar o caso de Spurgeon.
Spurgeon foi acusado por calvinistas e arminianos pelo seu método. Ele pregava como um calvinista quando a passagem parecia favorecer o calvinismo e pregava como um arminiano quando a passagem parecia favorecer o arminianismo. Sobre o assunto, ele disse:
“Eu não sei como aquilo se ajusta com isso, que é mais uma das coisas que não sei.”
“Eu permanecerei exatamente no que sempre hei de pregar e sempre tenho pregado, e tomo a Palavra de Deus como está, possa eu reconciliá-la com outra parte da palavra divina ou não”.
Somente a devoção intensa de Spurgeon a autoridade das Escrituras me impede de chamá-lo de “pós-moderno”. Ele sacrifica a razão, sem muitas preocupações, enquanto os calvinistas clássicos, para montarem um sistema lógico, negligenciam a verdade inconteste de muitas passagens das Escrituras que não apoiam o calvinismo.
No início de sua carreira ministerial, Spurgeon pregou intensamente sobre textos bíblicos que pareciam favorecer o calvinismo, mas, em certa altura, passou a pregar tão insistentemente sobre textos que pareciam favorecer o arminianismo que os calvinistas já não o consideravam como colega.
Em um texto escrito sobre I Timóteo 2: 3, 4 (no qual se diz que Deus quer a salvação de todos), Spurgeon disse:
“E então? Tentaremos substituir por outro o sentido que o texto apresenta com tanta clareza? Nem pensar! Vocês, muitos de vocês, conhecem bem o método geral pelo qual os nossos velhos amigos calvinistas tratam esse texto. ‘Todos os homens’, dizem eles – ‘isto é, alguns homens’; como se o Espírito Santo não fosse capaz de dizer ‘alguns homens’, se quisesse dizer alguns homens. ‘Todos os homens’, dizem eles; ‘isto é, alguns de todos os tipos de homens’; como se o Senhor não pudesse dizer ‘Todos os tipos de homens’, se Ele quisesse dizer isso. O Espírito Santo, por meio do apóstolo, escreveu ‘todos os homens’ e, inquestionavelmente, Ele quer dizer todos os homens. Sei como descartar a força do termo ‘todos’, segundo aquele método crítico que há algum tempo era muito corrente, mas não vejo como se pode aplicar isso mantendo a devida consideração pela verdade. Há pouco, estive lendo a exposição de um habilidoso doutor que explica o texto acabando com ele; ele aplica pólvora gramatical ao texto, e o faz explodir a título de explicá-lo. Quando li a sua exposição, pensei que teria sido um comentário de capital importância se o texto dissesse: ‘Que não quer que todos os homens se salvem, nem que cheguem ao conhecimento da verdade’. Se essa fosse a linguagem inspirada, todas as observações feitas pelo ilustre doutor ser-lhe-iam exatamente fiéis, mas como acontece que ela diz ‘Que deseja que todos os homens sejam salvos’, as suas observações estão mais do que um pouco fora de lugar. Meu amor pela coerência com meus conceitos doutrinários não é suficientemente grande para me permitir alterar conscientemente um único texto das Escrituras. Tenho grande respeito pela ‘ortodoxia’, porém a minha reverência pela inspiração é muito maior. Prefiro cem vezes ou mais parecer incoerente comigo mesmo a ser incoerente com a Palavra de Deus... Não permita Deus que eu corte ou modele, sequer no mínimo grau, qualquer expressão divina. Assim corre o texto, e assim o devemos ler: ‘Deus nosso Salvador, que deseja que TODOS os homens sejam salvos, e venham ao conhecimento da verdade [...] Como é MEU desejo que seja assim, e como é desejo de VOCÊ que fosse assim, também é desejo de Deus que todos os homens sejam salvos; pois, seguramente, ELE NÃO É MENOS BENÉVOLO QUE NÓS.”
Dave Hunt disse:
“Na verdade, como veremos, especialmente em seus últimos anos, muitas vezes Spurgeon fez declarações que estavam em conflito direto com o Calvinismo. Seu sermão favorito, aquele através do qual ele disse que mais almas tinham vindo a Cristo do que por qualquer outro, foi criticado por muitos calvinistas como sendo arminiano!”
Norman F. Douty cita mais de setenta renomados líderes evangélicos que se opuseram ao calvinismo, entre eles Richard Baxter, John Newton, John e Charles Wesley, John Bunyan, D. L. Moody, Charles Finney, H. C. G. Moule e outros.
A tradição mais antiga dos batistas afirma a depravação total do ser humano e a perseverança dos santos, mas nega a graça irresistível e a expiação limitada (que nem o próprio Calvino nem Lutero defenderam). Quanto à eleição incondicional, a tradição batista mais antiga a nega como foi proposta pelos calvinistas. A eleição tem a Cristo por condição soberanamente estabelecida por Deus, mas a presciência de Deus conhece os que receberão a Cristo e Deus lhes predestinou um plano sequencial que começa com a justificação, passa pela santificação, e chega a glorificação.
A Bíblia diz que “Deus é amor” e que “Deus é um fogo consumidor”. A questão é saber se ele é um fogo consumidor para quem não o recebeu como um Deus de amor ou se ele é um Deus de amor para aqueles a quem não deseja consumir. O primeiro é o Deus da Bíblia e o segundo é o “deus” do calvinismo!
Pr. Glauco Barreira M. Filho (13.12.2010)
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