Crédito da imagem: Heberth Ventura
Os ateus geralmente atacam os crentes, alegando que eles acreditam em Deus apenas porque isso conforta os que são psicologicamente fracos. Assim, a motivação da crença seria emocional, mas não racional.
Freud dizia que a figura de Deus era apenas a projeção da figura paterna, objeto de amor e temor ao mesmo tempo.
Nós poderíamos, porém, usar todos os argumentos dos ateus contra eles mesmos. Será que o ateu não prefere que Deus não exista a fim de que não precise comparecer perante Deus no juízo final?
O ateísmo enfraquece as idéias incômodas de responsabilidade e juízo. Para falar de modo coerente, enfraquece até mesmo a idéia de verdade.
O filósofo ateu Thomas Nagel, em seu livro The Last Word, disse:
“Estou falando de... medo da religião em si. Baseio-me em experiência própria, já que sofro, eu mesmo, desse medo. Quero que o ateísmo seja verdade... Não é apenas o fato de eu não crer em Deus e, naturalmente, esperar estar certo em minha crença. Trata-se da esperança de que Deus não exista! Não quero que Deus exista. Não quero que o universo seja assim... Fico curioso para saber se existe alguém que seja genuinamente indiferente à existência ou não de um Deus, alguém que, seja qual for sua crença atual sobre o assunto, não deseje especificamente que uma das duas respostas esteja certa”.[1]
Quanto ao ensino de Freud de que Deus é uma projeção de nossa imagem paterna, eu prefiro a posição de Carl Jung, para quem o arquétipo de Deus em nosso inconsciente é anterior a qualquer outra imagem:
“O conceito de Deus é simplesmente uma função psicológica necessária... Quando não é consciente, é inconsciente, porque o seu fundamento é arquetípico... Por isso, acho mais sábio reconhecer conscientemente a idéia de Deus; caso contrário, outra coisa ficaria em seu lugar, em geral uma coisa sem importância ou uma asneira qualquer – invenções de consciências ‘esclarecidas’”.[2]
Na verdade, nós projetamos a idéia divina de Pai em nosso pai terreno. É daí que vem a obrigação moral de honrarmos os nossos progenitores. Quando um pai é irresponsável ou perverso para com os filhos, nós dizemos que um pai NÃO DEVERIA ser assim. Tudo isso deixa claro que é de Deus que vem o nosso conceito deontológico de pai.
Creio que a nossa crença na existência de Deus não é racional nem irracional. Todos nascemos com a idéia de Deus impregnada em nosso ser. Ela representa as “digitais” do criador em nossa alma. É preciso se esforçar para se convencer que Deus não existe. O ateísmo é artificial e não natural. A presença da crença em Deus nas mais variadas culturas e épocas atesta não se tratar de uma invenção cultural específica.
Apesar de a idéia de Deus ser uma pressuposição anterior a qualquer reflexão, a conclusão mais racional que podemos assumir é a de que o fato de ela ser necessária e não contingente evidencia que temos um Criador, que nos deixou as suas marcas.
Pr. Glauco Barreira M. Filho (01.04.2011)
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Referências
[1] NAGEL, Thomas. The Last Word. (Oxford University Press, 1997), p. 130.
[2] JUNG, Carl. Psicologia do inconsciente. Trad. Maria Luiza Appy. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 63.
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