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Foto do escritorPastor Glauco Barreira M. Filho

As igrejas mundanas e o mundanismo


Pessoas dançando em uma festa

Crédito da imagem: Heberth Ventura



Quando nós falamos em mundanismo, as pessoas pensam em orgias, bebedeiras e crueldade. Embora seja verdade que os que estão envolvidos em tais coisas sejam mundanos, o mundanismo consiste na assimilação de padrões avaliativos do presente século.


O mundo é um sistema de pensamento que eleva o inferior e abaixa o superior. Consiste em uma inversão de valores: o temporal acima do eterno, o corpóreo acima do espiritual, o terreno acima do celestial, o humano acima do divino, o fútil acima do profundo, o vil acima do precioso, o profano acima do sagrado...


A busca por status social, as preocupações com a aparência e com os bens materiais são exemplos de mundanismo. Há também um mundanismo “religioso”, como o desejo de ser superior, a competitividade por cargos da igreja e o espírito faccioso (I Cor. 3).


John Wesley, o grande avivalista do século XVIII, disse:



“Se não se guardar todos os mandamentos, ele (o crente) tornará a sentir ‘a concupiscência dos olhos’, o desejo de gratificar sua imaginação com algo grande, ou lindo, ou raro. De quantas maneiras esse desejo assalta sua alma! Talvez em relação às mais insignificantes ninharias, como vestimenta ou mobília – coisas nunca desenhadas para satisfazer o apetite de um espírito imortal. Mas como é natural para nós, mesmo depois de termos ´provado os poderes do mundo vindouro´, descermos novamente a esses tolos e baixos desejos de coisas que perecem pelo seu uso!”



Wesley diz que devemos ter cuidado com o “medo da desaprovação” do mundo, pois “intimamente associado a isto está a má vergonha, o ter vergonha daquilo de que devíamos nos gloriar. E a má vergonha raramente está separada do temor do homem e arma mil ciladas para a alma”


Nós vivemos em um mundo em que os genuínos valores estão em crise. Quando não há referencial de qualidade, triunfa a quantidade. Muitos acreditam inconscientemente que a “quantidade se transforma em qualidade”.


Com inspiração na filosofia de mercado do capitalismo, a ética pragmática do sucesso é dominante até no cenário religioso. O “melhor” termina sendo o que garante o aumento e o lucro, ou seja, o que funciona. Nessa visão, não importa saber sobre a correção e legitimidade dos meios. O resultado, não o princípio, é o fator determinante de tudo.


É dentro desse espírito mundano que muitos “pastores” tem buscado se “impor” como referenciais de sucesso, estabelecendo grandes igrejas.


Em Fortaleza, um certo pastor de formação batista rompeu com a sua denominação (Batistas Regulares), alegando a caducidade das formas tradicionais da igreja evangélica. O seu objetivo era estabelecer uma nova forma de organização, um novo modelo de administração orientado ao sucesso. O curioso é que o referido pastor diz ter tido essa visão negativa do modo de ser das igrejas clássicas desde de os seus primeiros tempos de fé. Na verdade, esse homem não se permitiu crescer na mentalidade cristã, mas se endureceu no resíduo de mentalidade mundana que o acompanhou depois da pretensa “conversão”.


O referido “pastor”, cujo trabalho já foi objeto de pesquisas acadêmicas de sociologia, afirmando a necessidade de libertar-se das amarras institucionais, estabeleceu um governo episcopal, hierárquico e autoritário na sua “igreja”. Não apenas a preocupação com a santidade, mas também o governo congregacional e participativo típico dos batistas foi abandonado.


A mega igreja se reúne em uma tenda para aproximadamente quatro ou cinco mil pessoas, enquanto o pastor não manifesta qualquer interesse de abrir congregações menores em variados bairros. Há uma elevada concentração de poder. A tenda é muito distante do centro da cidade, o que só permite acesso de quem tenha transporte, possibilitando um público mais elitista.


A pesquisa de um aluno do Doutorado em sociologia da UFC identificou que o modo de vestir-se dos membros da igreja não revela sinais de “santidade”, mas de “relaxamento”. Não apenas há a extravagância dos adereços femininos, mas a frequência aos cultos de pessoas (de elevada condição social) de bermuda e chinela.


Para fazer a igreja crescer, o pastor está disposto a tudo. O seu programa “Celebrando a Restauração” utiliza os 12 passos utilizados pelos Alcoólicos Anônimos. A banda norte-americana Christafari, que é uma banda de reggae, e a Banda SURFISTAS, prata da casa, também já fizeram os seus shows na igreja. O mais escandaloso, porém, foram os cantores de forró “cristão” que deram seu espetáculo com dançarinas de mini-saia. As dançarinas, ao se movimentarem, exibiam as suas roupas íntimas e as partes de seu corpo. As peças teatrais exibidas na igreja, por sua vez, ao representarem as práticas mundanas, vêm com representações sensuais e sugestivas.


O local da igreja parece um “Shopping Center”. A organização estrutural do local de culto parece um local de espetáculos e não de culto.


Durante o período de festas juninas (que no catolicismo é uma homenagem a um santo), a referida igreja faz a “Festa do Milho”. É interessante observar que festas referenciadas a vegetais eram comuns no paganismo, sendo muitas vezes acompanhadas de sacrifícios humanos. Nessa “Festa do milho” da “igreja” em questão, há a presença de sanfoneiros e muita dança. O ritmo do “forró pé de serra”, acompanhado por coreografias realizadas por jovens vestidas em trajes típicos entra no enredo de um culto.


Como se não bastasse, o “pastor” usa o seu tempo (muitas vezes, o domingo) para atividades automobilísticas de Rally, pilotando o seu carro da Mitsubishi. Como poderíamos imaginar um “homem de Deus”, trocando a preparação espiritual pelo esporte em pleno domingo de culto? Como um pastor sério pode se envolver em esportes radicais praticados por homens vazios a procura de emoções? Como pode um homem de sensibilidade se envolver em um esporte burguês que inclui a descartabilidade de caros automóveis?


Quem quiser saber sobre o que os outros praticantes do Rally acham do caráter do “pastor” pergunte a eles. Eu, sem perguntar, já ouvi.


É triste ver pastores querendo ser estrelas, astros do mundo evangélico. Contemporizando a igreja e manipulando crentes, tudo para obter o sucesso.


Estamos vendo não somente em igrejas “evangélicas”, mas também no catolicismo carismático, toda sorte de abusos. Esses movimentos barganham com seus adeptos. Eles lhes prometem um clube com muita diversão em troca de freqüência e contribuição. Os valores de mercado estão presentes. O consumismo de produtos e serviços domina o ambiente. O nome de Deus só é mencionado para acalmar consciências perturbadas.


Precisamos voltar para a Bíblia, para o verdadeiro culto, que, como Jesus disse, é em espírito e em verdade.


Na época dos apóstolos já havia teatro, música mundana, variedade exorbitante de instrumentos... A igreja primitiva, porém, valorizou a simplicidade. Não incorporou aos cultos um modelo teatral, recusou o uso de muitos instrumentos musicais (preferindo até o culto sem instrumentos) e criou um tipo de música sacra que impressionou o Agostinho pagão, levando-o à conversão.


O catolicismo medieval tornou a manipular pessoas com cultos estratégicos e não espontâneos. A Reforma Protestante, porém, apregoou o retorno a um culto simples, centrado na pregação da Palavra de Deus. Os puritanos e anabatistas se tornaram lendários pela ênfase na simplicidade e santidade do culto.


Não queremos resultados primeiramente, queremos coerência com princípios. Não queremos quantidade primeiramente, mas qualidade. Não queremos sucesso, mas vitória. O sucesso é êxito mundano, mas a vitória é contra o mundo. Vencer é combater o bom combate e guardar a fé.





Pastor Glauco Barreira M. Filho (04.04.2011)

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