Amai-vos!
- Silvana Sales
- 2 de mar.
- 5 min de leitura

Crédito da imagem: Heberth Ventura
“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos amei”. (João 13:34).
Muito se fala mundo afora sobre amor. No entanto, a concepção que muitos têm acerca do assunto são as mais variadas possíveis e certamente foge totalmente do conceito bíblico de amor.
Há os que defendem que por ser Deus, um Deus de amor, seria Ele benevolente com todo tipo de relacionamento e sua forma de expressão. Há também quem acredite que o amor é um mero sentimento, algo que muitas vezes nos toma de súbito, tornando-nos semelhante a animais: instintivos, impulsivos e indomáveis.
No entanto, a Palavra do Senhor Jesus nos esclarece definitivamente de forma prática o que é amor, nesse texto escrito pelo apóstolo João e como podemos vivenciá-lo.
Antes de qualquer coisa que eu possa citar, é necessário que saibamos que o amor bíblico, mencionado por Jesus nesse relato de João, bem como todos os outros citados em toda a Escritura, não trata do amor como um sentimento romântico. Ele é acima de tudo um mandamento.
A exemplo disso, Jesus dá aos maridos a ordem de amarem suas esposas, bem como os irmãos em Cristo, inseridos na familia de Deus, que se amem mutuamente. Em se tratando de mandamento, não precisamos “sentir” algo para que amemos. Porque o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espirito Santo (Romanos 5:5), nos capacita a amar.
Mas, algo nesse escrito do evangelho de João, me chama a atenção de um modo muito particular. Jesus não nos ordena apenas que nos amemos, mas que nos amemos como Ele nos amou. E esse artigo na verdade, é para que reflitamos sobre o que Jesus queria nos dizer quando nos mandou que amássemos, tomando a si próprio como modelo.
O amor e o serviço
Primeiramente, vemos que uma das formas de manifestarmos o amor pelo nosso irmão é através do serviço. Após a ceia, Jesus cingindo-se de uma toalha, serviu seus discípulos, tomando uma bacia e lavando os pés dos mesmos. (João 13: 4-5). Ele, sendo Senhor e Mestre nos deu o exemplo. A pergunta é: será que Jesus desejava com isso que lavássemos literalmente os pés dos nossos irmãos?
É certo que existe uma grande lição por trás dessa ilustração: a humildade e o cuidado que devemos ter de uns para com os outros. Quando Jesus se manifestou ante a perplexidade de Pedro ao ver aquela cena, disse: vós já estais limpos pela Palavra que vos tenho falado, por isso, a necessidade de lavar apenas os pés.
Vivemos num mundo sujo de maldades e pecados, e por estarmos ainda nele estamos sujeitos constantemente a “sujarmos nossos pés”, daí a razão de cuidarmos uns dos outros por meio também das admoestações.
O amor e a intercessão
Outra forma de amar como Jesus nos amou é intercedendo uns pelos outros. A oração intercessora é uma das maiores provas de amor que podemos expressar pelo outro. Vejamos o que a Bíblia nos relata:
Jesus orando no Getsemani disse ao Pai: “Eu rogo por eles; não pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (João 17:9). À Pedro, certa feita afirmou: “... Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”. (Lucas 22: 31-32). E ainda: “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele (Jesus) se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” (Hebreus 7:25)
Jesus na oração sacerdotal, orou pelos seus discípulos e por todos aqueles que viessem a crer no futuro, intercedeu pela vida de Pedro e vive para interceder por todos os seus servos, o que significa dizer que amar como Jesus amou é, à semelhança de seu exemplo, orarmos incessantemente uns pelos outros.
Os puritanos vivenciavam isso de forma louvável. Para eles a oração era um ato de amor, uma maneira de carregar os fardos uns dos outros, e de interceder pelo bem-estar espiritual e físico daqueles que estão ao redor. Eles entendiam que ao orar por alguém estavam participando do cuidado e da compaixão de Deus por essa pessoa.
O puritano William Law afirmou: “Não há nada que nos faça amar tanto uma pessoa quanto orar por ela”.
O amor e a generosidade
Uma terceira forma que eu gostaria de abordar como forma de amar o nosso irmão é socorrendo-os em suas necessidades. “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como reside nele o amor de Deus? ” (1ª João 3:17)
Era assim que vivia a igreja primitiva (Atos 2: 44-45, Atos 4:34-35). Em seu mais profundo e puro amor, eles tinham imenso prazer em servir os irmãos necessitados, os órfãos, as viúvas com os seus bens. A abnegação, o altruísmo é sem sombra de dúvida, o amor em ação.
Tiago, em sua epístola, nos confronta com a seguinte indagação: “E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta do alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias, que proveito virá daí? (Tiago 2: 15-16)
As últimas consequências do amor
E por último e não menos importante, eu diria que seja essa a maior de todas as provas: “Conhecemos o amor nisto, que Ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos.” (1ª João 3:16)
A igreja primitiva viveu o amor prático e abnegado em todas as suas dimensões. Amaram com as suas orações nas muitas tribulações e perseguições, com os seus bens auxiliando os necessitados nas suas dificuldades, amaram admoestando e cuidando do bem-estar espiritual do outro e amaram até as últimas consequências arriscando suas vidas para resguardar a vida de seus irmãos.
Finalizo esse artigo com um exemplo maravilhoso. Paulo nos faz essa graciosa referência ao falar de dois admiráveis obreiros: “Saudai a Priscila e a Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; pelo que não só lhes agradeço, mas tambem todas as igrejas dos gentios.” (Romanos 16:3-4)
Jesus não espera de nós apenas que amemos. Isso seria arriscado demais, pois, correríamos o risco de “amar” do nosso jeito, confuso, tendencioso, seletivo. Ele requer muito mais: que seja como Ele nos amou. E foi essa expressão que numa leitura mais cuidadosa, chamou-me a atenção de um modo muito particular e que a meu ver, faz toda a diferença.
Que o nosso amado Deus, em sua infinita bondade e misericórdia nos conceda graça para, apesar de nossas falhas e limitações, amarmos como Ele nos amou.
Silvana Sales
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