Crédito da imagem: Heberth Ventura
Uma das coisas em que nós somos insistentes como anabatistas ortodoxos é no ensino de que só há uma forma visível de igreja verdadeira. Essa doutrina era algo que entre os batistas dos séculos passados era normalmente pregado.
As pessoas das denominações atuais costumam nos chamar de separatistas e exclusivistas por sustentarmos a doutrina da ÚNICA IGREJA VERDADEIRA VISÍVEL. Antes de respondermos às acusações, desejamos esclarecer alguns pontos:
1)Falar em igreja verdadeira não é falar em congregação concreta, senão indiretamente. O que sustentamos é que há uma FORMA (Modelo) de igreja verdadeira no Novo Testamento. As comunidades em cidades que se organizarem segundo a doutrina bíblica serão nelas essa igreja verdadeira, seja lá com que denominação (ou sem denominação) aparecerem.
2)Quando analisamos se uma igreja é verdadeira ou não, nós não analisamos a fé pessoal ou a salvação de seus membros.
A argumentação segundo a qual nenhuma igreja pode se declarar verdadeira tem implicações graves para o cristianismo. Ela pode significar que a pessoa está asseverando que toda igreja tem uma mistura de doutrinas falsas e verdadeiras. Se isso for verdade, quem identificou quais são as doutrinas verdadeiras e quais são as falsas em todas as igrejas é um “papa” em sentido romanista. Se, todavia, afirmam dogmaticamente que há essa mistura, mas não provam o que é falso e o que é verdadeiro, tal dogma não é uma confissão de fé, mas uma confissão de dúvida. Trata-se de uma falta de fé no poder de Cristo para levantar testemunhas contínuas de sua verdade.
A rejeição, porém, da doutrina da igreja verdadeira hoje decorre predominantemente da absorção da visão de mundo pós-moderna. Dentro dessa visão, reina um ceticismo quanto à verdade e um relativismo de valores que impede as pessoas de fazerem afirmações convictas. Os que agem assim não percebem que sua visão favorece ao enfraquecimento do conceito de verdade, o qual é imprescindível ao cristianismo.
Edward W. A. Koehler, um LUTERANO (não anabatista) dos séculos XIX e XX, disse:
“Essas denominações diferem umas das outras em pontos de doutrina, afirmando cada qual que seus ensinamentos são verdadeiros. É absurdo supor que todas essas igrejas têm os ensinamentos verdadeiros e corretos. A verdade pode ser uma só. Uma doutrina é verdadeira ou falsa. Não pode ser ambas as coisas.A verdade é intolerante. Não pode ter comunhão com erro, assim como a luz não tem comunhão com as trevas (II Cor. 6: 14). Só pode haver uma doutrina verdadeira a respeito da criação do mundo, a santíssima Trindade, a pessoa de Cristo, a redenção, a conversão do ser humano, etc., e tudo o que não concorda com essa doutrina, necessariamente deve ser falso.”[1]
Embora discordando sobre qual igreja era verdadeira, mas não abdicando do fato de que somente uma poderia sê-lo, cristãos de vários segmentos (não apenas anabatistas) sustentaram no passado o ensino da única igreja verdadeira. Concluo, portanto, esse artigo com as palavras do LUTERANO Koehler:
“Desse modo, a igreja verdadeira é aquela que, EM TODAS AS SUAS DOUTRINAS, adere ESTRITAMENTE À PALAVRA DE DEUS. Igreja falsa é aquela que, EM UM OU MAIS PONTOS, se afasta dos ensinamentos da Palavra de Deus. Quando chamamos de falsa uma igreja, NÃO JULGAMOS A FÉ PESSOAL DE SEUS MEMBROS INDIVIDUAIS, mas apenas suas doutrinas públicas, tais como estão em suas confissões.”
“Torna-se, assim, dever de cada cristão EXAMINAR PESSOALMENTE os ensinamentos de sua igreja para ver se estão de acordo com os claros ensinamentos da Bíblia (Atos 17: 11; I João 4:1). Não pode resolver o caso, FIANDO-SE NA PALAVRA DE OUTREM. A QUESTÃO É DE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE PESSOAIS. Não podemos aceitar qualquer doutrina firmados na autoridade de um professor ou pastor, sacerdote ou papa, nem porque um sínodo ou concílio eclesiástico assim o haja decretado, mas apenas porque é claramente ensinada na palavra de Deus.”[2]
Pastor Glauco Barreira M. Filho (21.06.2010)
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[1] KOEHLER, Edward. Sumário da doutrina cristã. Trad. Arnaldo Schüler. 3 a ed. Porto Alegre: Concórdia, 2002, p. 177.
[2] KOEHLER, Edward. Sumário da doutrina cristã. Trad. Arnaldo Schüler. 3 a ed. Porto Alegre: Concórdia, 2002, p. 178.
Esse entendimento é imprescindível para sabermos onde devemos nos congregar. Uma igreja visível com a sã doutrina é a igreja na qual devemos nos unir.