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Foto do escritorPastor Glauco Barreira M. Filho

 A tradição hermenêutica

Atualizado: há 4 minutos


Uma bíblia aberta

Crédito da imagem: Heberth Ventura


 

Uma coisa é falar em uma tradição oral ao lado da Escritura como fonte revelação, outra, bem diferente, é falar do consenso da igreja antiga não dividida e do consenso dos que mantiveram a fé apostólica em detrimento da apostasia medieval. Estamos nos referindo ao consenso interpretativo daqueles que criam na autoridade suprema e exclusiva das Sagradas Escrituras. Tal consenso deveria aparecer a nós no mínimo como o sinal amarelo do semáforo.


O fato de não concordarmos com o catolicismo quando ele reivindica a infalibilidade do papa e dos concílios não deveria ser causa de nos entregarmos a um subjetivismo interpretativo. Esse subjetivismo, que favorece ao relativismo predominante em nosso tempo, não é uma libertação de toda tradição, mas, antes, é a aceitação acrítica do pensamento moderno e racionalista que sustenta a autonomia atemporal do homem.


O iluminismo foi um movimento de racionalização na filosofia que marcou o início da modernidade. Os iluministas julgavam como irracional qualquer perspectiva contrária àquela que defendiam. A verdade, porém, é que os iluministas reduziam a razão a uma única forma, à razão matemática, abstrata e dedutiva.


O certo é que a razão possui várias manifestações, sendo cada uma adequada a uma área do conhecimento ou a uma dimensão da realidade.


Uma vez que Deus se revelou progressivamente na história, nós não podemos desconsiderar a história ao interpretar a Bíblia. Devemos levar em conta não só a história que foi registrada na Bíblia, mas também a história do registro bíblico.


Há pessoas que, influenciadas pelo iluminismo, reivindicam uma autonomia em relação à história. Elas querem interpretar a Bíblia sem conferir o resultado com o passado. Não percebem que não pode ser verdade o que não encontra continuidade histórica dentro do cristianismo.


Não queremos uma interpretação pessoal e isolada das Escrituras como se Deus quisesse falar a cada um individualmente sem remanescer qualquer sentido objetivo para a sua palavra contida na Bíblia. Antes, nós queremos “compreender, COM TODOS OS SANTOS, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3: 18, 19).


Não podemos negar dois milênios de história cristã. Se a igreja, por exemplo, estivesse errada em assuntos como a Trindade, as duas naturezas de Cristo e a inspiração da Bíblia, então, não teria existido continuidade do cristianismo bíblico em praticamente dois mil anos. Obviamente, isso seria inaceitável, pois seria o fim do cristianismo.


Não ter uma tradição histórica nesses dois mil anos de cristianismo é dar a atestado de ilegitimidade. Certas seitas e denominações que não encontram antecedentes históricos respeitáveis provam através disso a sua condição de heresia. Não se pode dar um salto acrobático do último apóstolo para os dias de hoje. Por isso, são inaceitáveis certas coisas como a ordenação recente de mulheres ao ministério ou a ideia contemporânea de que homossexualismo não é pecado.


Jesus disse que o Espírito Santo guiaria a toda a verdade (João 16: 13). Imaginar que algo possa ser descoberto hoje sem qualquer luz na história cristã anterior é negar a obra do Espírito, acusando Jesus de mentiroso.


Se não fosse uma tradição de leitura da Bíblia, nós não teríamos traduções da Bíblia confiáveis. As Escrituras hebraicas, por exemplo, só usavam consoantes. As vogais, não sendo escritas, eram conhecidas pela leitura. As disputas sobre o nome de Deus no Velho Testamento devem-se a não menção desse nome pelo judeu por excesso de reverência. Isso ocasionou o esquecimento das vogais do tetragrama divino.


Dentro do raciocínio aqui desenvolvido, nós cremos não só na inspiração dos autógrafos (manuscritos originais) da Bíblia, mas também cremos que os manuscritos copiados (apógrafos) que nos restam também foram guardados providencialmente por Deus de acordo com os originais. Não crer nisso é fazer Deus contraditório, ou seja, é crer que Ele nos deu a Bíblia por um milagre que ele não pode manter. É limitar o poder miraculoso de Deus ao passado.


Alguns historiadores, ao descobrirem manuscritos mais antigos do Novo Testamento em tempo recente, constataram pequenas variantes em relação ao texto que vínhamos usando para as nossas traduções (chamado “texto recebido”). A partir desse fato, eles puseram em dúvida a autenticidade de nossas traduções clássicas.  Tais historiadores não perceberam que esses textos mais “antigos” não eram lá tão antigos. O texto que usamos, exatamente por ter sido tido como fiel aos originais pela igreja antiga, foi copiado e recopiado. A constante possibilidade de ter um exemplar mais novo fez com que os irmãos se descuidassem de guardar os exemplares mais antigos. Alguns textos que foram recentemente encontrados em locais específicos representam cópias imperfeitas. Tais cópias mereceram o cuidado de serem guardadas apenas porque, pelo fato de não serem tidas por fiéis, não foram mais recopiadas ao longo do tempo.


A CONFISSÃO DE FÉ DE WESMINSTER conclui com razão:



“O Velho Testamento em Hebraico (língua nativa do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus, e pelo SEU SINGULAR CUIDADO E PROVIDÊNCIA conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um Supremo Tribunal...”[1]




Pr. Glauco Barreira M. Filho (18.02.2010)




.oOo.




[1] A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. I, VIII.

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