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A escolha dos diáconos


Santo Estêvão é consagrado diácono , 1511 por Vittore Carpaccio (1465-1526, Italy)



“Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da Palavra. E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram... e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.” (Atos 6: 1-6).



Na mensagem anterior, nós comentamos acerca da escolha dos pastores. Naquela oportunidade, ficou claro, a partir do exame de Atos 14: 23, que os presbíteros eram indicados pela liderança para aclamação dos irmãos. Fritz Rienecker e Cleon Rogers, em sua CHAVE LINGUÍSTICA DO NOVO TESTAMENTO GREGO, publicada no Brasil pelas Edições Vida Nova, traz o seguinte comentário sobre os termos utilizados no original grego de Atos 14: 23:



“xelpotovnoavtes part. aor. at. Xelpotovéw (1-2) eleger pelo erguer das mãos, apontar. Aqui a seleção foi feita por Paulo e Barnabé (Haenchen)” (p. 219)



Obviamente, a eleição dos diáconos seria feita do mesmo modo. Tanto isso é verdade que Paulo falou sobre os requisitos para o episcopado e para o diaconato em cartas para ministros, no caso, para Timóteo (I Timóteo 3) e para Tito (Tito 1: 5-9), e não nas cartas para as igrejas. Para as igrejas, foi ensinado o reconhecimento dos pastores (Hebreus 13: 7, 17; I Tessalonicenses 5: 12; Filipenses 2: 29).


Nada mais lógico do que a indicação do candidato ao ministério ou ao ofício ser feita pelos pastores. Afinal de contas, o pastor não apenas tem o ministério de ensino, mas também o de governo (I Tessalonicenses 5: 12; I Cor. 12: 28; Romanos 12: 8; I Timóteo 5: 17). A palavra “bispo”, inclusive, significa “superintendente”.


Feitas essas considerações preliminares, vamos examinar Atos 6.


No dia de Pentecostes, estavam presentes em Jerusalém judeus de várias partes (Atos 2: 7-11). Muitos eram judeus helenizados, isto é, contextualizados na cultura grega. Essas pessoas se converteram e ficaram em Jerusalém. Como estavam longe de suas casas, os irmãos de Jerusalém tiveram que sustentar tantos eles como os de outras partes de Israel que estavam em Jerusalém, dividindo seus bens (Atos 2: 44, 45). O amor dos crentes foi legítimo, mas faltou prudência, o que levou a um posterior empobrecimento dos irmãos de Jerusalém (durante um período de escassez de alimentos). Isso fez com que Paulo buscasse socorro para eles entre os gentios (I Cor. 16: 3; Romanos 15: 26). Foi por esse motivo que Paulo disse que o nosso amor deveria crescer junto com o conhecimento (prudência, bom senso) em Filipenses 1: 9.


Antes, todavia, do empobrecimento mencionado, houve um outro problema relativo à distribuição dos bens que os irmãos de Jerusalém doavam em proveito dos outros. Os judeus gregos (que eram originários de regiões que estavam além da palestina) se sentiam injustiçados ante os hebreus (judeus originários de Israel) na distribuição diária. Começou, então, a haver murmuração. Foi nesse momento que os apóstolos convocaram a multidão.


Os apóstolos disseram que não era razoável deixar sua atividade principal para resolver esse problema. Disso se infere que eles próprios, caso quisessem, poderiam ter resolvido o problema diretamente ou por meio de representantes indicados. Preferiram, todavia, deixar o povo escolher, pois o problema era do próprio povo.


Nós costumamos dizer que Atos 6 registra a escolha dos primeiros diáconos, mas isso não é inteiramente verdade. O que aqui aconteceu não foi a escolha para um diaconato institucionalizado (o que até então não existia), mas a escolha de pessoas para resolver um problema específico. É claro que aqui foi o primeiro passo para a institucionalização do diaconato, foi a sua fase embrionária, mas aquelas pessoas eleitas não tinham a responsabilidade ampla de resolver qualquer problema social na igreja. Elas só estavam comissionadas para resolver aquele problema específico. Os sete irmãos escolhidos nunca foram chamados de diáconos.


Quando a perseguição veio, muitos voltaram para seu lugar, pregando a palavra (Atos 8; 1 e 4). Nesse momento, os apóstolos, como ministros locais, permaneceram em Jerusalém (Atos 8: 1). Filipe, entretanto, que era dos sete escolhidos (Atos 6: 5) para distribuir a porção diária, se sentiu à vontade para deixar sua tarefa (que se descaracterizara pela perseguição) a fim ir pregar em Samaria (Atos 8: 5). Filipe foi chamado de evangelista e um dos sete, mas nunca de diácono (Atos 21: 8).


Notemos que os apóstolos deixaram a escolha ao povo porque o problema interessava ao povo, já que se tratava de um problema específico e temporário, não de um diaconato permanente. Isso não quer dizer, eu repito, que esse episódio não tenha nada a ver em absoluto com o diaconato. Essa foi a sua fase de maturação, mas o diaconato ainda não se transformara em ofício. Uma prova de que isso é verdade é que nem todos os requisitos para o diaconato contidos em I Timóteo 3 foram exigidos na escolha dos sete (Atos 6: 3).


O episódio de Atos 6 deixa claro que os apóstolos poderiam ter apresentado (indicado) os sete para aclamação em vez de terem deixado o povo elege-los. Em primeiro lugar, porque foram os apóstolos que tiveram a sugestão de escolher pessoas (Atos 6: 2, 3). Em segundo lugar, porque disseram o número, no caso, sete (Atos 6: 3). Em terceiro lugar, porque não falaram em um direito do povo eleger, mas, sim, ordenaram que o povo elegesse (Atos 6: 3). Em quarto lugar, porque estabeleceram os requisitos a serem preenchidos (Atos 6: 3). Em quinto lugar, porque disseram que eles é que constituiriam os eleitos sobre aquele negócio (Atos 6: 3). Em sexto lugar, porque o povo apresentou os eleitos para aprovação dos apóstolos (Atos 6:6).


Portanto, fica claro o papel episcopal e coordenador dos pastores, o que reclama as constantes orações da igreja!





Pastor Glauco Barreira M. Filho (04.12.2008)


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